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Qua, Abr

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DESEJO PURO

Após os sessenta, as seivas se iluminam

os hormônios erguem muralhas contra o desencanto

as entranhas tornam-se fluentes

rios de anelos adivinham novas volúpias

êxtases adormecidos acordam sedentos

saltam da alma para o firme corpo

por tantos gozos e dores extremado.

 

A luz dos olhos filtra penumbras

abre paraísos perdidos

que só os anos descortinam

e as mãos impolutas maculam

com gestos carnívoros originais

o espírito e a carne dos homens.

 

As vísceras ficam insolentes

o púber mais grato e faminto

fúria de vulcão transforma rostos

em ruas voluptuosas, avenidas de gemidos

e olhares etéreos fitam as carnes e os dias.

Lascívia ronda os cabelos

(brancas cãs do desejo)

o espírito convoca o corpo

a concupiscência se resolve

unhas apontam infinitos róseos.

 

Os sumos todos se revoltam

afloram aos poros mais íntimos

a flor da pele comemora

a ressurreição do jardim

a renovação das rosas dos olhos.

 

Ungüentos se apuram

se afiam óleos e lumes

a vida comunga com abismo

de onde brota o vermelho desejo

alto, velho, primitivo.

 

Após os sessenta anos, as mulheres amam mais o mundo

deliram mais do que os homens

e o sono resplandece com as cores do orgasmo

A volúpia se avoluma, se refina o grito

que a pequena morte instaura

vergasta a pele e a alma

 

Após os sessenta anos as mulheres tornam-se lobas

éguas mágicas, montanhas de uva

celeiros de sonhos, frutas maduras para o amor

rebentos do desejo puro.

 

(À velha libido, que, se nos anos cinqüenta se descora, colore-se nas mulheres de sessenta).

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Murilo Gun

 
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