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Qui, Abr

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O âmbito dessa vida tão surdo

torna-nos nulos. Abrigados da intempérie

perecemos, a alma exausta retira-se

 

 

da cena imunda do mundo. Nada nos faz

retroagir da indecência e do descuido

pelo espírito que se espoja no luxuoso lixo.

O madeiro da cruz, a boa lenha da alma

tudo já não nos consagra, só amarga.

Gerador de ira instala-se na vida mais íntima.

À frente da vida ocidental, gira moeda mundana.

Num palmo de tempo, numa pegada de sopro

vão se os únicos resquícios da vida humana.

A cruz em troços, o rumo omisso

graduada a dor com mérito analgésico vital

o caminho do Gólgota estrangulado.

O sofrimento já não suporta a humana indiferença

seca o martírio, sura Cristo. Hoje

usurário joga a ação da vida

contra mortal (ou transitório) dividendo.

Do átomo anônimo ou vândalo

de tua luz ilumino a alma nua

escuro espírito em puro pânico

na carne desmedida indiferente ao sopro

alma que erra por escusa da vida

e erma busca ainda o grão lúcido

a porção dividida, o termo perdido

adentro de meandros noturnos sigo

sem a esperança da clareira curta

e sem quedas que o sangue não resgate

o ser do mundo prosaico é que sinto

a distante poética como lugar sem retiro

apenas vão que a dúvida conquista

enleia a mais falsa teia

a mercê da dor dialética negas

a esse teu ser sem sentido ou amparo

da palavra livre e humana.

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Murilo Gun

 
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