O âmbito dessa vida tão surdo
torna-nos nulos. Abrigados da intempérie
perecemos, a alma exausta retira-se
da cena imunda do mundo. Nada nos faz
retroagir da indecência e do descuido
pelo espírito que se espoja no luxuoso lixo.
O madeiro da cruz, a boa lenha da alma
tudo já não nos consagra, só amarga.
Gerador de ira instala-se na vida mais íntima.
À frente da vida ocidental, gira moeda mundana.
Num palmo de tempo, numa pegada de sopro
vão se os únicos resquícios da vida humana.
A cruz em troços, o rumo omisso
graduada a dor com mérito analgésico vital
o caminho do Gólgota estrangulado.
O sofrimento já não suporta a humana indiferença
seca o martírio, sura Cristo. Hoje
usurário joga a ação da vida
contra mortal (ou transitório) dividendo.
Do átomo anônimo ou vândalo
de tua luz ilumino a alma nua
escuro espírito em puro pânico
na carne desmedida indiferente ao sopro
alma que erra por escusa da vida
e erma busca ainda o grão lúcido
a porção dividida, o termo perdido
adentro de meandros noturnos sigo
sem a esperança da clareira curta
e sem quedas que o sangue não resgate
o ser do mundo prosaico é que sinto
a distante poética como lugar sem retiro
apenas vão que a dúvida conquista
enleia a mais falsa teia
a mercê da dor dialética negas
a esse teu ser sem sentido ou amparo
da palavra livre e humana.
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