Escrevi esses poemas extremos porque vi o extremo numa
viagem a bordo do abismo para o confim de mim mesmo. Fui além
da alma, depois do corpo, quando os comecei. Não evitei os tiques
estilísticos próprios de minha lavra poética nem a mania de montar
sintagmas oximóricos, insensatos (para os sentidos comuns), esdrúxulos,
não recomendáveis, para quem escreve em benefício do
leitor, o que não é meu caso, absolutamente.
Escrevo poema para total desconforto do leitor (que se
dane se quiser entender).
Se o poeta entrega de mão beijada, numa bandeja dourada,
o tal sentido do poema (tão ou mais procurado do que um malfeitor
do velho oeste ianque), tão esperado que desespera o leitor,
quando este não lhe é dado, de imediato, na primeira linha ou
golpe de leitura; caso seja assim, assado não é, e poesia não o é
também. O poema não deve ser uma resposta, uma lição, mas um
questionamento, uma interrogação. Nada de resultados prosaicos,
mas investimento literário.
Escrevo poemas, portanto, para o desconforto extremo de
quem casualmente me leia. Se fosse uma reforma de um prédio, a
placa séria seria: desculpe o transtorno da leitura, estamos trabalhando
para desconforto total do seu entendimento.
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