A ira é o dom dos raivosos.
Embora ira cure, sua posologia mata.
Embora não seja frígida, não é prescritível.
Ira não prescreve, nem vence ou perde.
A ira tem um irmão maior: o furor.
Ira dispensa educação. É autodidata e indecorosa.
A ira torna árido o coração.
A ira da turba é turva.
Nunca ature ira, devolva na medida.
Ira cívica pendura
títeres pela mandíbula. Ou cunha.
E comemora furiosa vitória.
Ira é cara, custa às vezes os olhos da cara.
Ira cega não se vê a si mesma.
E muito custa para quem dela seja escrava.
Ira nunca pode ser exata, a ira não é matemática.
Toda ira é desmedida. E soberba.
A ira não é avara e famosa
por ser desmesurada.
À ira irás, leitora tola, se não saíres
do estado de cólera que teus olhos declamam.
A ira é ácida e sua espuma salgada.
No meio da ira encontra-se a raiva
esperando para acompanha-la.
A ira é longa, a arte fraca. E o furor ara.
Ensoberba-se e irado apotegme a mim de volta. Ou proverbie.
Aforismo raivoso lance sem escrúpulo
a quem te estenda a mão bondosa.
Ir à ira? Não vás!