às vítimas peticionárias
deduzo
com a rotina do olhar
a complexidade da matéria
aprisionada nos autos
aquilato
com olhar medido
a eternidade
de papel e tempo
comprimida
em tão escasso
espaço processual
penetro
com olhar perito
as partes íntimas
do corpo petitório
vou ao sexo do pleito
ainda impúbere
disseco
com olhar apunhalado
as vísceras da petição
analiso
a anatomia dos fundamentos
os alicerces do requerido
e as fraturas das razões expostas
separo
com as pinças da rotina
os tecidos da lei
os nervos da norma
os órgãos da regra
as células dos dilemas
e as moléculas do anômalo
costuro
as vestes do justo
e construo
as várias faces
da verdade oficial
mastigo
a carne dos considerandos
e apalpo
a alma dos argumentos
atinjo
a letra do escrito
e o seu espírito
navego
no mar de alegos
e de pretendos
com as hélices da equidade
corto as controvérsias
e as procelas do jurídico
rasgo
com os bisturis da lei
as suturas da certeza
as vendas da verdade
as ataduras da dúvida
rompo
todos os sofismas
e extraio
as maduras safiras
da decisão definitiva
(nas lâminas da fé
de ofício, reafio
as convicções diárias)
consulto
os arquivos mortos
as jurisprudências do dia
a certeza da chefia
e solidário
com as aparências
e com os pareceres
decido para sempre
e baixo os autos
à elevada consideração
do chefe mais próximo
carimbo
dato
e assino.