Pedra somos
E a dor não nos penetra porque não odiamos
O sentimento endurecido não resvala para sua face áspera.
Como pedra tombamos
A terra guarda a sombra, a cicatriz cintila
A mineral solidão ilumina o cansaço, clareia confins
Grutas traumáticas, orlas sem nome, verdades de argila.
Dia-a-dia mais
O humano morre em nós
Com tenacidade animal industrializamos a alma.
Dia-a-dia menos humanos somos
E mais pedras.
Os parcos silos de felicidades extinguimos
As ogivas da dor elevamos a céus de pedra e asco
Da pedra ao grito não há
Trânsito, pássaro, limite, motivo.
Do silêncio das coisas aveludadas erguem-se
O sal do artificio, as nozes da saliência, os uivos, as dízimas
Ou dúzias de semióticas cegas
(semânticas ocas).
Não somos melhores do que o orvalho.
Nem somos pedras cambrianas. Mas pó,
E do pó não escapará nossa alma.