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Qua, Abr

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Pedra somos

E a dor não nos penetra porque não odiamos

O sentimento endurecido não resvala para sua face áspera.

Como pedra tombamos

A terra guarda a sombra, a cicatriz cintila

A mineral solidão ilumina o cansaço, clareia confins

Grutas traumáticas, orlas sem nome, verdades de argila.

Dia-a-dia mais

O humano morre em nós

Com tenacidade animal industrializamos a alma.

Dia-a-dia menos humanos somos

E mais pedras.

Os parcos silos de felicidades extinguimos

As ogivas da dor elevamos a céus de pedra e asco

Da pedra ao grito não há

Trânsito, pássaro, limite, motivo.

Do silêncio das coisas aveludadas erguem-se

O sal do artificio, as nozes da saliência, os uivos, as dízimas

Ou dúzias de semióticas cegas

(semânticas ocas).

Não somos melhores do que o orvalho.

Nem somos pedras cambrianas. Mas pó,

E do pó não escapará nossa alma.

Murilo Gun

 
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