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Ter, Abr

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De carne e claridão,

À sanha dos desejos das mãos,

Esplende teu corpo e eu espero

Teu corpo,

Mar e leme,

Ilha, solo úbere de gaivotas,

Campo de espigas, enigmas,

Teu corpo,

Uma água esbatendo o cais,

Salpicando-me

As mãos que te desejam e sangram

Em luz e madrugada,

Lavradoras da terra

Onde és plantada,

Até a eternidade dos frutos deflagrados.

O desejo é ter mãos ou sonhos?

O desejo és tu ou este desespero de poema?

Em teu corpo,

Prende meu desejo e navega,

Além das mãos

No aquém-mar do ventre.

Teu desejo, esse meu incêndio,

Ilha e solidão?

Sêmen ou semeação?

Meu amor

É maior que a tua sede,

Meu corpo de pescador perdido

Procura os horizontes e o peixe,

Com quem divides

E desvendas o mar

Teus seios,

Aves gotejantes dos céus,

Cumes atiçados por voos

E eu,

Plástico amante telúrico,

Enraizado entre pedras

Nascidas na planície.

O amor lavrou a morte

E minhas mãos te escavam inutilmente.

Chobia na terra escurecida,

A tarde espiava

Os últimos visitantes de teus púbis,

Eu te expiava

E fiquei submerso

No sonho tão pássaro,

Como pedras que corroem

As mãos do náufrago.

E corri em busca da brisa,

Na sede de partilhar

Do teu corpo alisio.

Eis a tempestade,

As distancias desencadeadas,

E o meu teu corpo mutilado em mim.

Fugi de teu corpo,

As mãos são partidas

E eu espero

A frutificação dos dedos, o desejo,

A esperança tornada pedra,

O gesto de te tocar eternizado,

Eu te espero em todas as manhãs

Para o embate indomável dos corpos

Amantes e desesperados.

Eu espero novas primaveras

Renascerem em teu ventre,

Eu espero

Teu corpo

Me espera.

Murilo Gun

 
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