“Vital Corrêa de Araújo é o grande feiticeiro da poesia urbana. O arqueólogo das gavetas. O teólogo dos arquivos. O carimbador das manhãs.
O grande místico do caos civilizado. O profeta do Messias de plástico. O biógrafo do abismo suburbano. O pescador do rio de argamassa. Da maré de asfalto. Do peixe de amianto. Dos caranguejos de neon e vidro.
O pastor das engrenagens míticas. O maestro das praias octaédricas e das chuvas pálidas. O retórico do sol de jade. Da lua de polvilho. O escultor da seca. Da eternidade esquálida. Do branco extinto. Do edifício de carne. Da avenida nua. Do pássaro sem fuselagem. Das amebas sânscritas. Dos brasões de fogo. Das bananas de fio e pavio. Da liberdade de alumínio. Da paz posta. Da justiça de óculos. O oráculo da alma exausta. Do universo devastado. Do beco olímpico.Da trilha sonora. Do catecismo de pedra. Do travesseiro de zinco. Cantador dos punhos negazaquis. Da rosa atômica. Da natureza morta. Bebedor de vinho faraônico. Comedor de pães cônicos. Escritor de livro aceso. De poesia seca. Do epitáfio de Deus. Do silêncio vivo”.
Paulo Bandeira da Cruz