No ímpeto estrépito do tímpano das cores o início
nos sais do tempo os ossos do passado
dores arqueológicas traços
de amores cambrianos antigos
vestígios do coração das luzes de suas ruínas escavados
por um deus compassivo ainda habitado do humano
as cinzas espalhadas na imensidão do inconsumível
cadáveres amontoando-se como areia em declive
na tarde aberta a pátios de outubro
a tristeza de Deus estampada no céu
no rosto das rosas cansadas
na pútrida catedral do crepúsculo
no imo do homem que rasteja
estábulos em disparada pesadelos
de mãos dadas com tempestades
e candelabros de entristecida chama
fustigando o espírito demolindo a alma
as decepções e os cotonifícios
a pétrea ingratidão partindo os fios
dias obstinados fugas de cavalos
pelos campos senis de dezembro
hostes de carmim amargo invadindo
o ártico lábio das mulheres
seus paradisíacos corpos devastando
a sede iconoclasta dos homens
a ímpia certeza do êxtase a todo custo
por vândala cinza iluminada
de cruel abril que se propaga
pelos féretros sem conta das quartas-feiras
o império do sal devastado as linhagens interrompidas
enterros de condes ressuscitados
e duques vazios inchando
em castelos sem amparo de solitários
muros sem a cal da alma cobertos
pelas mortalhas das perdidas batalhas
acumuladas nas paisagens do espírito
a caterva de lixo metropolitano
as estações azuis de teus olhos bêbados
barcos a que todos os portos se negaram
capitães de peitos desertos como o pranto de setembro
trens corroendo a veia anêmica das cidades
a prosperidade das empresas avícolas em destaque
em êxtase a apoteose rural dos cogumelos a volúpia
de intrincadas doçuras abrindo-se no conluio das abelhas
a colméia dos voos ferroviários em falta
olhos de cavalos injetados no horizonte átrida
gesto escuro o poeta oferece ao futuro.