a Murilo Mendes
um dos gênios da raça, com CDA
Mendes sempre soube da vital irrealidade do irreal e nessa ciência compôs com- consciência seu epitáfio, encarnou o absoluto do relativo, da vida, da poesia e desprezou hipóteses póstumas, em benefício da dúvida exata, em favor de todos os descartesianismos do mundo, odiou ditaduras e conjugou batata-frita na oração operária que gerou das perorações atiradas das janelas italianas e dos corredores astutos do Vaticano. Da noite Murilo arranca o sono dos olhos e presenteia a constelações mais próximas.
Previu o Pentágono eufórico de Bush matar o Iraque do mundo.
Imaginou o som sanguíneo das bombas ianques despejadas da boca de Bush desdentado e medroso arrasando religiões, pessoas, crianças, quarteirões
Murilo tocou o grito que uiva no útero dos bombardeiros automáticos, aviões sem alma.
A morte é oval e romana segundo Mendes.
Para quem onde se lê ordem e progresso leia-se caos e futuro.
É severa a escrita da morte
e tem uma forma secreta (vide Mayer).
A morte é sempre surpresa e solta.
Hoje (25.12.2007), jocosa angústia
se apoderam de mim a ler MM
quando a dimensão do mundo (maior que a do homem)
(e suas misérias) me exaspera.
Os ângulos escuros do mundo moderno
me desarmam a aritmética alma
e o vertiginoso do humano me corrói
rói-me por dentro da alma o temor de ser
as margens do espírito se estreitam de mais
tudo falsifica o dia capricorniano
enquanto metais dormem sono de Marte
e os veículos da Jequitinhonha atravessam
além do tempo, além das almas, o corpo
dos suspensos dos semáforos (vide Lêdo)
cadáveres aéreos tricolorados
e tudo segue falso e decupando até
que a gratuidade do sono me devore
os olhos comprimindo-me a mente
e à insônia que reste eu devote-me entregue e no meu
à definitiva voragem de viver.