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Vital violenta a palavra desmesuradamente sempre. É uma espécie marginal de poeta. Usa a mesma coitada de modo desconfortante altamente para ela e mais altamente ainda para o pobre leitor vital dela.

Vital estupra o verbo. É indecente. E vital Vital. Ele dá à palavra novo e desconcertante sentido invulgar. Se muito. Ou tanto. (Mantém a palavra com rações imedidas inapropriadas de sentido. As enlouquece. Viola qualquer gramática decente. Ou razoável. Violenta o coitado do significado. (O hímen do sentido ninguém sabe onde anda). Torna-o espúrio, impredestina-o. Provoca loucura nas palavras. Que se sentem portanto estupradas sempre.

            Ele tortura o verbo até a náusea (do leitor). Obriga a palavra a dizer o que não quer e o que nunca antes (dele) disse.

            Tudo o que não figure em seu destino estrito de sentido estreito ou em sua ostensiva e clara denotação. Na aura dicionária. Que a proteja (à palavra) de violentações tais (vitais). Que a proteja de novos vitais. Vital repulsa o dicionário. É contrário às inépcias e aos dons bursáteis do verbo. É totalmente indecoroso. E voraz em diatribes azuis. Rege sua criação o insólito absoluto. (Deve ser por isso que ele acoima seus pretensos e deformados poemas tristes et grotescos de Poesia Absoluta. Sua poesia é uma geometria de fluxos desafetos e estos estocásticos. Só. É de propósito gramaticalmente incorretíssimo. Imagine que retirou arbitrariamente os hífens de “poesia neoposmoderna”. Pode? Ele quer agramaticalizar tudo. Coitado.

            Vital não mingua. Cresce. É lua sem fase. E estamos acertados.

            PS: É intolerável o horizonte vital da poesia. Parem-no. Antes que ele para mais coisas abstrusas. Impunemente intoleráveis. Como tais. (VCA assedia a realidade, que seja vital, sempre).

            O notável Ramón Xirau (catalão) dispara: “o poema feito (e fato) de palavras se inclina sobre si mesmo (a diferenças da prosa) para ser poema acerca (não do mundo ou do si) da palavra: trânsito do silêncio ao nada”. O poeta hoje esquece que os brancos (não as pausas sonetísticas) ocupam espaço vital na poesia.

            O notável Mallarmé quis criar um livro (de poemas) que fosse o duplo do cosmo. (De Deus). E se alguém mereça ser Deus, este é o poeta. Mallarmé pretendeu um texto (e o conseguiu) que fosse total, esgotasse o múltiplo no um (dialético), ou seja, extrema condensação da mais extrema ainda dispersão. Exemplo: “Falo o pensamento. E vulva a palavra”. Octavio Paz.

O rosto é indizívell. O falo fala. Dê à vulva a palavra: interpretação vital.   

 

 

Murilo Gun

 
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