Do páramo donde me despeço da tarde
avisto todo o ocaso, suas nostalgias
e trêmulas cores debulham como milhos
cones vermelhos no céu distante irresistível colho
e toco com olhos rasos de navalhas lacrimais
dentre flores de melancólicas luz visão arrasa
quando já se apagaram desvairados
todos os gritos do meio-dia ácido
e se tece de ausência e alta solidão
o tempo feito cadáver da hora poente.
2
Abro a jaula da vigília
embosco a luz da redoma
no oculto ardor do orvalho incluo
argila e sigilo, fogo íntimo, sopro fátuo.
3
Apenas se insinuem sementes
horto engravide, rasteje rosa
relva se locuplete da umidade noturna
horizonte do silêncio se achegue
lua coagule o prado
exprima-se o vento em cubos ávidos
de sopros leves poema construa-se
e a página da campina livre se condecore
de alegria infinita, e realize o poeta iluso.
Sal e flor, alumínio do sol
olhar de fulgor, rosas incrédulas
incendiadas do teu olhar eterno
mal torne-se tigre o meu rumor
a natureza te brinda
de corbelhas de nuvens
e alísio ventos pousem em teus seios
refresquem a face
nua, e eu te adentre firme como pássaro
do cútis infinita.
4
Porque há borboletas, somos.
Ou por que Deus ousou
fazer a borboleta do barro aéreo?
5
Teus olhos vazam-me o rosto
minha cena interior exponho
lágrima de pedra atiro ao vento
tenho-te para ver o porvir.
6
E no trote aéreo de Pégaso
alucinando o céu
além das pedras náufragas sepultas
no porto das carícias busco
raiz mesopotâmica
onde sal cultive
sombras assírias.
7
Horas de cinza
relógio ávido espalha
pelo corpo do tempo
pós de Cronos.