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Sex, Abr

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                                                                        Vital Corrêa de Araújo

      Através é inclassificável porquanto aceita e rechaça vária forma ou denominação formal: elegia (à Rilke), odes superpostas, meditação (à Perse ou Cernuda, de realidade e desejo),

lirismo desvairado (mas objetivo, o que o torna dialeticamente fundado) e controle verbal extremo (o que permite visualizar e sentir o bloco íntegro e o trabalho estrófico quase arquitetônico); poema em 11 laudas ou estrofes (cada uma relacionada a outra, mas sintaticamente autônomas) ou gesta hínica formando um só (e) grande poema à FP. Ou somente 11 poemas tal como aparenta (mas também não o é, só se metafisicamente considerando). Essa enfim, vária forma permeia Através, que é um compósito delas e uma mescla de estilos novos.

      Chama atenção a brevidade que poderia classificar-se de ascetismo expressivo ou recorte poético do branco, posto que há mais de 50% de pausa branca no espaço ocupado pela mancha gráfica que inunda as 11 páginas.

      Mas, enfatize-se, tratar-se de uma brevidade obsessiva, não ditada por questões de economia de palavras, porém produto e resultado de uma busca original de intensidade (tal como Pound perora), que tende ao absoluto (em Através).

      Na poesia de Rogério Generoso e mui particularmente em Através, vê-se desenfreado o poder imaginário assoberbar-se e exercer seus direitos na página, não um poder controlado, medido, dosado, em suma domado (em gotas homeopáticas) mas tal que a imaginação exerça-se com todas as rédeas longas possíveis.

      Sente-se (quase que se apalpa) ao longo do poema, o processo de metamorfose da poética e do poeta.

      O eu que atue na criação verbal de Através é expressão de um eu pessoal, porém um eu de desejo não de biografia, eu porém não físico, terreno, inútil espectador da vida tal como parece ser. Eu de um observador distante que se sente implicado no poema como que indiretamente.

 

Murilo Gun

 
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