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O sentido é relativo ou dependente. Para realizar-se, depende do objeto ou referente.

            São traços estruturais relativos ao modo como se representa o objeto (ou mundo) o sentido.

            Como pensamento e mundo se correlacionam? Qual a interpretação da relação pensamento e mundo. Isso é lógica, cabe a ela. Que se aplica à prosa (mesmo que a prosa se apresente na “forma” de versos).

            O pensamento poético não representa (ou interpreta logicamente) a realidade (ou adequação do pensamento ao mundo). Ele é paralelo a ela. Então, a expressão linguística poética não é limitada à lógica.

            Em poesia, não há (nem pode havê-lo) limites à expressão do pensamento, não existe o obstáculo do sentido, a adequação necessária entre realidade e linguagem.

            A representação linguística com base na lógica da representação inexiste na poética absoluta.

            A possível lógica poética não é condição de sentido, não havendo discriminação ou separação entre sentido e nonsense, entre sentido e absurdo, sentido exato e imperfeito ou aproximado. Nesse sentido, é alógica a poesia absoluta.

            Ao contrário, poesia não é prosa pequena, restrita, envergonhada, presa à referência e sentido.

            O poema absoluto objetiva livrar o texto de qualquer limitação ou fronteira à expressão do pensamento poético.

            Como ao poema não interessa ou comove a ânsia de ser o texto verdadeiro ou não, lógico, político, claro, exato, discernível, estruturado, verossímil ou não, a ele não obstam óbices (ou necessidades de interpretação).

            A existência de relação de representação entre linguagem e mundo é condição (mas não essência, no caso da poesia) da linguagem.

            O que retrata os fatos do mundo ou sua posse, isto é, a forma lógica e ideológica da realidade do mundo, é a prosa.

            Ao nível consciente, a ligação palavra (nome) e objeto ou mundo ou relação necessária (e lógica), entre realidade e linguagem, se estabelecem ou são estabelecidas via prosa. A via poética funciona noutro nível, no campo do id (ou o que seja). A representação (servil, fisicalista) do mundo com absoluto rigor não interessa à poesia absoluta.

            Não é o fato do mundo existir – e sim o modo como ele existe, a partir da forma (lógica ou não) como é expressa tal existência, que dá origem ou possibilita a experiência da poesia absoluta.

            O mestre absoluto Winttgenstein, que produziu, dialeticamente, sua filosofia, compondo uma obra complexa e anos depois outra mais complexa ainda, porém exatamente contrária à primeira, disse que quando não se tem nada a dizer se cala. Complementando-o, digo que, em poesia absoluta, quando não se tem nada a dizer produz-se o poema.

Murilo Gun

 
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