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Qui, Abr

destaques
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Meu credo não é belo. Nem profundo.

Meu credo não é alto. Nem íntimo.

Creio apenas no instante. E na espécie.

Não creio em muros, arredores, insumos.

Creio em soros. Não em conluios.

Creio na febre que alimenta o indivíduo.

Creio na sombra de que se embebe o convívio.

Creio na incandescência do neurônio

e no lume que viola o escuro.

Creio sobretudo na palavra inescrutável

e no barro do verbo, matéria de Deus.

Creio no contrário. E no espírito.

Luto para que não se reduza

o homem a seus sentidos.

 

Detesto tudo o que eleja

a reentrância do lábio

endeuse o matiz do batom

ou a nuance do sentido

tudo o que festeje o bijutérico

e essencialize o supérfluo

ou se consagre com o tório.

 

Renego joias enganosas

verdade de bijuteria

alma de adorno

certezas vadias.

 

Não esqueço que o tempo feito de ossos

são como homens a cavar fossos

de crueldade e fantasia.

 

Ergo repúdios

às crenças da carne

e a embelezamentos do vazio.

 

 Da horta de minhas certezas

não colho os tristes

frutos da dúvida.

 

Do horto dos meus credos

da alma de meus dias

não cultivo a flor da pele

ou dálias de ilusão.

 

Só as rosas que vivem das veias

Profundo que habita o coração

Verdade que brota do impermanente cultivo.

 

Degrado todo o autômato

máquinas  do enganoso sentido destruo.

 

Atanazo o iluso

que vela o espírito

impede o descontínuo

escondendo do mundo

a dor de seus limites

e o limiar do impossível.

 

O iluso que estanca

a veia do verdadeiro

e feminiza o absurdo

estripo de minha visão do mundo.

 

Não condescendo com a penúria

nem  com o insano.

 

Em minha mão não lavra a razão

não germina

essa planta daninha rainha

do vaso do racional

essa fórmula do artifício

que impõe seu modelo

e seu vício

ao homem e ao mundo.

 

Ainda possuído

pelos  ardores da noite

e vapores do vinho em meio

ao vulto de uma garoa

que visitou minha janela

dav cela do mosteiro enfatizo:

 

Não deixe que reduzam

   o homem a seus sentidos.

Murilo Gun

 
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