Meu credo não é belo. Nem profundo.
Meu credo não é alto. Nem íntimo.
Creio apenas no instante. E na espécie.
Não creio em muros, arredores, insumos.
Creio em soros. Não em conluios.
Creio na febre que alimenta o indivíduo.
Creio na sombra de que se embebe o convívio.
Creio na incandescência do neurônio
e no lume que viola o escuro.
Creio sobretudo na palavra inescrutável
e no barro do verbo, matéria de Deus.
Creio no contrário. E no espírito.
Luto para que não se reduza
o homem a seus sentidos.
Detesto tudo o que eleja
a reentrância do lábio
endeuse o matiz do batom
ou a nuance do sentido
tudo o que festeje o bijutérico
e essencialize o supérfluo
ou se consagre com o tório.
Renego joias enganosas
verdade de bijuteria
alma de adorno
certezas vadias.
Não esqueço que o tempo feito de ossos
são como homens a cavar fossos
de crueldade e fantasia.
Ergo repúdios
às crenças da carne
e a embelezamentos do vazio.
Da horta de minhas certezas
não colho os tristes
frutos da dúvida.
Do horto dos meus credos
da alma de meus dias
não cultivo a flor da pele
ou dálias de ilusão.
Só as rosas que vivem das veias
Profundo que habita o coração
Verdade que brota do impermanente cultivo.
Degrado todo o autômato
máquinas do enganoso sentido destruo.
Atanazo o iluso
que vela o espírito
impede o descontínuo
escondendo do mundo
a dor de seus limites
e o limiar do impossível.
O iluso que estanca
a veia do verdadeiro
e feminiza o absurdo
estripo de minha visão do mundo.
Não condescendo com a penúria
nem com o insano.
Em minha mão não lavra a razão
não germina
essa planta daninha rainha
do vaso do racional
essa fórmula do artifício
que impõe seu modelo
e seu vício
ao homem e ao mundo.
Ainda possuído
pelos ardores da noite
e vapores do vinho em meio
ao vulto de uma garoa
que visitou minha janela
dav cela do mosteiro enfatizo:
Não deixe que reduzam
o homem a seus sentidos.