Era 1945, num final de tarde quando
João Sibelius ateou
um fogo grego e faminto
sobre suas pobres partituras
de tão ricas músicas escandeadas
chamas consumiam manuscritos
com voracidade indelével
sobraram somente da gula do fogo
músicos restos e cinzas
da oitava sinfonia do gênio
e incendiário Sibelius
finlandês etéreo.
Com as próprias mãos
que modelaram tantas canções
Sibelius incinerou o som
os compassos chiaram
dentre as chamas do silêncio
a João Brahms
a João Marques
NOTA POETA: alguns compassos recuperados
dão uma ideia do que seria
a oitava sinfonia
os acordes dessa obra de gênio
que captura o infinito num bemol.
As chamas se altearam, ficaram
as cinzas sólidas da partitura
sons apenas esbraseados
o incêndio
da oitava sinfonia Sibelius
incinerou algo das oiças do mundo.
As chamas eram vivas, intensas
quase musicais.