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Duendes não tem sono (e sentido)

nem navalhas nos olhos

ou lume na clavícula sonâmbula

tem dois dês e dois esses

e uma fábula noturna (de passos perdidos

no rastro do tempo emboscado no rio da veia)

incrustada no páramo dos dias

no couro das noites nuas de abril, indefesos

ácidos que dissolvem os mais sutis capítulos

da culpa dos homens

(lançada no cartório misterioso de Deus

não impedem o rosto).

 

                               Olhos cônicos

                               acampados no chão volúvel

                               vítrea luz do vitral

                               (coalhado no esófago do ego

                               desmaiada sobre a tarde dos homens).

 

 

                Gozozo pó

                céu cabal, sina canônica

                alucinado muro que cobre

                branco escombro

                muda ruína dos objetos

                atônitos e inúteis, atos prosaicos

                não descobrem esse céu sem ventre.

 

 

 

Murilo Gun

 
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