Ao embalo de Heidegger
alicerce dos estudos poéticos (quadros)
de A Morte e o Rosto
singro nas águas agudas e secretas
da morte do rosto, lentos escolhos salto
ilhas demolidas ultrapasso (que o coral pó acalentou)
montanhas sonâmbulas escalo
perdido entre realidade e imagem
descortino entre sombras e planaltos
vale de meditação onde pasto.
Ninguém pode morrer por outro. Se alguém se
sacrificar por outro (atitude voluntária ou inconsciente)
não significa que o morto tenha tomado
do outro sequer a mínima parte de sua morte.
Morrer é algo mais do que pessoal, exclusivo. É
algo que cada ser assume (ou há de fazê-lo sem suplício)
de modo inextrincavelmente fatal
por imperativo categórico da vida.
Cada um tem que tomar a si sua morte.
A morte é, enquanto ser do ser, singular
e essencial, em cada caso: a minha, a tua, a de todos
(mas de cada um somente e sempre).
(Ninguém há de tomar-te a tua morte, eis
a única verdade afiada da vida
o credo vivo, o mandamento único: ama
tua morte acima de ti mesmo e mais do que tudo
ou todos: ela é o único bem fixo que tens na vida
a única verdade mais íntima e profunda
que desfralda a bandeira viva).
(A morte começa no rosto
nos olhos, no lodo
que coagula o olhar morto).
Sobre o pó dos mortos brota
pátina viva, ergue-se novo sêmen
edifica-se outro sopro.
Dos cegos túmulos pulam
os olhos do verme porvir.
(Os castelos da utopia
são de areia movediça ilusão
os erguem como ossos de pássaros
em voo branco).