Só a verdade e o humano tiveram
muito além das coisas simbólicas e carnais
no seio do EU sossego e agonia.
Acatamento e desacato teve a alma do homem.
O EU abateu a crista grisalha
dos naturalistas de casaca
quebrou a máscara
dos cronistas superlativos
(e a sua face ofereceu o opróbrio).
Aos merceeiros da verdade
Augusto cobrou a conta
e aos gênios de gravata
purgou a glória.
O EU dissolveu
com o duro ácido de suas páginas
o cenho parnasiano dos hierarcas da palavra
tangendo ao baú da mediocridade
as poses acadêmicas dos notáveis.
Para baixo dos sofás da raça
varreu os imperadores
da palavra pátria.
O dorso da azêmola foi o seu trono
de onde ele comandou o espetáculo
com o relho da palavra.
Augusto expôs-se ao mundo
para que a dor
lavrasse como incêndio agudo
sobre a lenha do século vencido
sobre o jugo do ego degolado.
Dos peitos da mãe-preta
mamou o pessimismo e a força
de arrostar a bengala e o bacilo.
E sob os tamarindos da dor
Augusto amou a vida.
O infortúnio foi seu escudo.
A hediondez, sua máscara.
Ao sofrimento do mundo
Ofereceu peito e face.
Na estética do horrível e do verdadeiro
talharam-se o rosto
e o ventre de seu verbo.
Nada deteve Augusto:
nem pátios crassos
nem criptas fúlgidas
do ouro do temor contaminadas.
Nem os demônios austeros de Dostoiévski
nem os anjos verbais de Rilke detiveram
a visão incansável de Augusto.
Ele foi irmão do nojo
fraterno amigo da morte
mas da vida paladino.
A existência
foi sua matéria prima.
Os prenúncios da guerra
nutriram seu instinto.
Augusto foi o relator sincero
das coisas veras e tristes
da condição de ser homem.
Ele anteviu o azul da glória
entre as vestes e o veiculo que conduzia
no poema o seu pai depois de morto
aos podres odres da eternidade
aos perfumes dos páramos profundos.
Mas a glória
não a fórceps ou apressada
veio afinal como escrava
servir não ao pai mas ao filho
vestida de todas as cores da dádiva
e dos aromas do tempo perdido.