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Sex, Abr

destaques
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A cor da covardia é política et poluta.

Águas tenebrosas que a secretam são velozes.

E a abissais profundezas de intensos vermelhos

e infernais se precipitam almas líquidas e de pecados

pesadas, como cores de desespero ou réstias de ira.

Círculos podres e líquidos fedentinos fetidez exalam como

narinas de abutres abertas a arcas do charco

ou urubus de palavras que se locupletem do horrísimo

odor nu do verbo infernal e instantâneo, absoluto.

Se negada a ti, leitor, entrada na cidade da dor

que o verbo da página espalhe, igualmente te proíbo

a do amor à palavra.

Se todas portas o diabo de vermelho aferrolha

te restará o paço da esperança-chave do coração

(ou de sua metade vermelha de Nazin) – aberta

do antro de tua veia corajosa ao mundo humano.

 

Do ponteagudo fogo que verte dolorosa fornalha

brasas pertencerão a tua alma.

Se teu espírito erínias albergue furiosas

e eumênidas de olhos de carvão vivo e puro, também

nele embarcam seivas de lágrimas geladas

como lacraus e cerastas de Prosérpina

rainha do eterno pranto que chorava pedras

sob comando de megera de fronte lívida

como Tisífone cingida de hidras os cabelos.

Lembrar que Teseu de Ariadne foi ao inferno

levado por Pirítoo (infeliz condutor) para

trazer de volta Prosérpina. Aprisionado

Teseu de Atenas conseguiu a trégua e o pacto.

Enquanto o heroico ateniense comemorava sua

liberdade, Cérbero digeria Pirítoo pelas

trisfauces da fera devorado (pelos

três cães acesos despedaçado).

 

Murilo Gun

 
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