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Qui, Abr

destaques
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Poesia está em não dizer

no arredor do silencio

na placidez do bismuto

no arrolar da imagem

na arruela da lauda

no arrulho da romã

e na mecânica do hemistíquio.

Na fluidez sincera da pausa

no colapso do medo verbal

na entranha pura da palavra

precipício ou purgatório

na beleza do mercúrio

está a poesia.

(não está na pressa que estrangula verso).

Na música que víbora

na harpa trêmula da alma

no torneio irresoluto do verbo

na lógica da sinfonia sintagmática

está a poesia (na página plantada)

e na veia do tempo

inocula histamina.

No expulsar do antídoto

que desexcita corações

na desmedida grega

no sono da palavra liberdade

(que Éluard eternizou)

e na bagem da vocabular cascável

a poesia feroz está

em vigília felina

na quina da hora verbal

na omoplata do silêncio cristalina

quando Atlas suspende o mundo

no peso cúbico do tédio

na virulência macia da náusea

nos músculos lassos da tarde

e no violino dos olhos

está a poesia

nessa geografia de íncubos

nessa safra de obuses e atrizes

nesse horizonte de fortalezas invencíveis ou civis

está a poesia.

A poesia está no desencanto ou na desventura

(e na épura que beira o espírito).

a Osman Holanda Cavalcanti

Murilo Gun

 
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