1.No fim? Nada!
2.Vê esse musgo, amiga
(a crescer sobre meu túmulo)
vale mais do que eu.
Está vivo!
3.Ó palavras lapidares
porém transitórias
que reuni nesta lápide precária.
O tempo não perdoa
(nem o mármore perdura)
e logo a hora as dilapidará.
4.Da morte nada se ouve
a não ser a mandíbula da larva
operando sobre o cadáver calado.
Ou o opróbrio do verme feliz.
5.A azáfama dos gusanos é uma lástima
inevitável. Talvez? Não, um triste fato.
Também ouvirás (amanhã leitora vã)
o silêncio apunhalante
ou ensurdecedor do nada.
(lápide médica de um otorrino curioso
do além corpo)
6.E os últimos dobres
do sino insano, as famosas
badaladas fúnebres, uivos metálicos
que só os vivos (ainda) ouvirão.
7.Agora pairo, espírito puro... e cago
na cabeça do mundo.
8.Morrer! O problema maior
é o desemprego que grassa
nas outras dimensões.
(Espírito também tem fome de ser
e valoriza salário mesmo inefável).
9.Não há luxo na tumba
(nem comodidade nenhuma).
Só o escuro brilha no ouro
escabroso dos gusanos, cujo maxilar
despede luz horrível.
10.A tragédia da humanidade
está à vista (e sem desconto)
nesta tumba imersa no lábio
impagável da larva.
11.Agora, ao menos, sou sombra.
Ontem, não era ninguém!
(de remediado ido)
12.Foi-se o rosto no vórtice supremo
fica a pá do coveiro ao relento.
(rima vital)
13.Depois que parti, reconheço
o mundo ficou maior
(e melhor).
Bem mereço.
(de um realista sem caráter)
ADENDO: Eu era o entrave ou escolho:
escolha, leitora en passant!
14.Condoo-me (leitora transitória)
de tua triste condição:
ainda és mortal.
Eu – te garanto – não morro mais!
15.Neste deserto âmbito
nesta insolente cova
(com o rosto bem enterrado)
nesta cela de terra inexpugnável
e solidão eterna, moro
para sempre.
Deste côvado frio vejo
bem nitidamente
a infinitude do escuro.
16.A agonia da morte
(e seu triste desespero)
já não espero.
17.Aqui jazo no meu lugar eterno (mas terreno).
Verdadeira residência na terra (de Neruda).
Aqui resido, sem CEP ou CPF. Em definitivo.
Sem teto, nunca mais.
(de um morador de rua ido)
18.Graças a Deus, as mandíbulas
dos tapurus são macias. E rápidas.
19.Se no fim só é o nada (e é mesmo!)
para que serve o absoluto? A eternidade é uma merda!