Olho é só reflexo da luz
ilúcida filosofia ótica, usina
de ilusões físicas
turbinas de fantasmas reais.
Só no espelho d’água há o real
do poço vem a estrela
(nele ínsita mas impermanente)
leito onde Narciso ama-se
o outro mesmo e mata-se
a si mesmo num impiedoso
sopro de volúpia pela imagem
inatingível do outro mesmo (não dele).
Onde quando dá-se
irresistível sede de amar(-se)
até a morte
o (a si) mesmo.
No peito do jângal
vento rola através dos ramos
relva urra nua (em atavios)
selva verga
galhos tramam
intrincado plasma
vento bole
com copas fortes e pomares
selvagens demoram
a respirar brisa de outrora.
Vento voa através dos espessos ramos
de lianas indígenas
e das trêmulas esfinges, das vaginas verdes
das bacias vegetais (do sêmen dos caules) escorre
o sono satisfeito dos cálices.
Melodioso mel abelha distila
de sua laboriosa dança de açúcar
balé do primoroso néctar advém
da química secreta e maravilhosa advém
da lida do pólen advém
a vida advém
da geminada geometria advém a vida.
Após a cesta dos sons servida em onda
após pássaros que impregnam o verão
de luzes sonoras e macias
circunvoluções no ar nu ginasta
após auréolas e relógios
(pairando no discurso finito)
após a morte do poema...
Ainda cheio de gozo entregas
o corpo ao sono de minhas mãos
macias como voo de pássaros
impregnados de verão e geometrias.