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Qui, Abr

destaques
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Que corre no grande rio estranho

senão caudalosas lágrimas (ou crocodilo louco)

hoste de sal que assalte salmos, urros de sáurio ou paurido

últimos ladridos das ladainhas de barro sustenido

líquido eco de hino arcaico, o oco

fundo de um coração de pecado (atravancado)?

 

Que corre no leito desse rio de dor

(por que suas águas de lágrimas se armam?)

Senão líquido de salvífio delírio o poreja

em busca do mar da penitnencia mor?

 

Que se recolhe dele que não sal, vício, desamor

e grito oblongo, sofrimento de ser?

 

Que resta deste delta da história

da dor do mundo senão a sina náufraga

do povo da ribeira do Eufrates forte

 como o foram as civilizações

tributárias desses tumulto lírico de água e limo?

Presa de aços fundo de saudade em vão

e de marasmo do ser que fluteir do lodo?

 

Que reverberam das ribeiras de gritos e pedra

se não penúria e aborto, além de correntes de ferro líquido

ou brasileiras de loucura acantonadas de ferro líquido

e cubos de temor instintivo e atávico

dos mastros do tempo inconsciente desatados

atados a timões desesperados (e sem rumos)

a busca de cais propícios a âncoras lerdas

do férreo delírio de água possuída?

 

Se não nações rastejando a vãs sinas de egos

Procurando covas ou desmorados tugúrios

Pecadores em busca das cinzas do paraíso

(e redenção fictícia)?

 

Fogo votivo da urna do lacrado templo

guardam-no virgens romanas afáveis ou lunares

 

Portas de Januo escancaradas

ira solta, luz agonizando (résteas leprosas ou felizes)

bélicos cães dilacerando campinas e corações

a lavra da morte, o fruto naufrago, foice certeira

hemisfério acantonados (como abustre atentos)

nos cones negros cólera

das terras devastadas de janeiro

(sem fevereiro e março ou carmim outubro)

cinzas das quartas-feiras de abismo branco

heranças espolidas pelo vórtice belicoso

dissídios cegos, esperanças estupradas

espólios destroçados, agônicos dias sem ventre

cardíaco tempo, hora da morte anunciada

em cada veia, rosto, máscara

penates abastardando lares

espírito arrasado por demônios cívicos.

 

A lugar seguro nenhum vou

de que a viagem é quando (terminal do ser

estação de Rimbaud, fauno de Mallarmé)

e onde é a que chego (última

parada do sangue, via facebook à veia).

 

Concorde pomo interrogo.

Pergunto por mim (ainda sou?)

Naipe e diáspora, pleito e ultimato

ou apenas luz que náusea exale?

Zero, esquerdo, palavra inominada de desânimo

da vida anônima do homem?

 

E as estrelas por que estão lá?

Apressadas no céu sem dúvida

espetadas por Deus.

 

 E o ermo que me tanto espera está

não tão distante, talvez, talvez longe ainda

abaixo ou acima, concha

inútil e casta, morte

sempre presente (atenta?) esfera sem limite

sombra do id, baunilha de dor (adiada

para os quandos insabidos e irrecusáveis)

colmeia de treva, desamor.

 

Ninguém é meu nome

sou da longa linhagem do nada

incompleto pária, touro castrado

épura sonolenta, vitral de soslaio

cacos de cores, celofane amordaçada

gravura de cromo, cinéreo instante

sombra poluta, adiada dor vital.

 

Nasci para ser ímpar ou dúbio

e vou embora logo para quando

(assim que o futuro terminar).

 

Onde é o lugar que habito desde ontem

é assim que volto ao passado de ser

(recuperando as carnes desperdiçadas, talvez)

ou apenas completar o desser.

 

Meu tempo é sempre trânsito

mero pretérito imperfeito atravessado fui

futuro é nunca

sou ultrapassado pois (porque)

meu nome é Ninguém.

 

                        a Séssilu e Uéssido

                        irmãos amigo de Ninguém.

 

 

 

Murilo Gun

 
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