16
Ter, Abr

Artigos
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

Os formalistas russos, à frente Roman Jakobson, contrariando a definição de poesia vigente desde o parnasianismo como algo com obrigatório

(e mesmo presumível ou planejado) significado, sendo o poema mero meio de expressão com o objetivo de dizer ou tematizar algo, tornaram o material fônico (o lado não conceitual, a outra face do signo) o único objeto da poesia. “A palavra enquanto tal”, isenta de toda relação (falsificadora, licenciosa, e emasculatória) com o objetivo (a referência, o mundo real aparente), foi colocada no centro do reconceito de poesia.

 

Não uma poesia sem significação (ou significância) mas uma poesia não (nunca) subordinada a significados, ou seja insignificante. Portanto, não uma poesia sem significação (estrita, estreita) mas capaz de evocar novas significações, ressignificações, ou, como Rimbaud o disse, poesia que signifique tudo e não só o que aparentemente (ou literalmente, o que é a mesma coisa) diga.

Importa que essa panóplia de significações não esteja arrancada do contexto familiar, isto é, das coisas repetidas, banalizadas, já sempre e sempre ditas (de forma parecida, familiar) a que qualquer leitor se acostume e a força inercial evita desaproximar-se para sentir ou aceitar os novos tempos da poesia.

Ao excluir da poesia a exata, precisa, fatal referência às coisas, Jakobson, de certo modo, atacou a lógica e verdade imperativa do enunciado poético. Pois o poeta é um fingidor. O poeta mente. Como bom imaginista ou ficcionista.

Pondera Jakobson: “Fazer com que o poeta assuma toda a responsabilidade pelas ideias e sentimentos que embuta no poema é tão absurdo quanto o comportamento do povo medieval que espancava com violência o autor que representava Judas”.

No entanto, Jakobson não radicalizou suas ideias poéticas e, com Valéry, comungava de que o poema é uma longa hesitação entre som e sentido (entre signos, como conceito e face fônica).

Quanto à questão segundo a qual a referência às coisas, ao real, ao mundo, que é próprio da linguagem, é ausente da poesia, ou não importa à poesia, Jakobson ponderou: “A supremacia da função poética sobre a função referencial não oblitera a referência (a denotação), mas a torna ambígua”.

E é dessa ligação, da palavra como usina de ambiguidade, como motor da mais alta conotação (ou poder conotativo excelso) possível, como propulsora do verbo a além do limite, que embaso a lição de Poesia Absoluta.

{jcomments on}

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
 
Advertisement

REVISTAS E JORNAIS