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Em seis de abril de 1794, nascia no Recife o futuro General das Massas, José Inácio de Abreu e Lima

Pernambuco, na primeira metade do século XIX, sentindo os ventos do Iluminismo, dos ideais democráticos da Revolução Francesa e da Maçonaria, viveu uma verdadeira turbulência revolucionária.

 

 

Muitos foram os episódios em Pernambuco que reivindicaram a justiça social e a igualdade de direitos entre as classes brasileiras: A Revolta dos Suassuna, que eclodiu  dentro do Areópago de Itambé, já em 1801; a Revolução Republicana de 1817, liderada por muitos maçons destacando-se entre eles o Padre Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, Grão-Mestre da Loja do Paraíso e discípulo de Arruda da Câmara, introdutor da Maçonaria em nossa terra; a Convenção de Beberibe, em 1821, que levou  o primeiro brasileiro a governar em seu país, o também maçom Gervásio Pires Ferreira; a Confederação do Equador, em 1824, que teve à frente os nossos irmãos Manuel de Carvalho Paes de Andrade  e  Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, mártir daquele movimento, além da Revolução Praieira, em 1848/49, de grande alcance social da época, com a participação decisiva de vários membros da maçonaria destacando-se entre eles o deputado geral e  desembargador Joaquim Nunes Machado, morto com um tiro na face, naquela revolução,  e que teve nos bastidores de seu jornal o Grande Mestre Maçônico no Grau 33,  General Abreu e Lima, braço direito de Simon Bolívar nas lutas libertárias da Colômbia e da Venezuela, por isso mesmo até hoje lembrado e agradecido naqueles países.

Filho de José Ignácio Ribeiro de Abreu e Lima o nosso General das Massas não tinha o Ribeiro. Nasceu no Recife em 6 de abril de 1794, aonde veio a falecer setenta e cinco anos depois, em 8 de março de 1869, após largo périplo pelo Rio de Janeiro, Angola, Olinda, Salvador, Estados Unidos, Grã - Colômbia, Europa, de novo o Rio de Janeiro e, por fim, o retorno ao Recife.

Homem de acurada educação, estudou latim, filosofia, retórica, francês e inglês, sem contar o espanhol, fluentemente falado e escrito, em seus trabalhos. Já em 1812, aos dezoito anos, Abreu segue para o Rio de Janeiro para  cursar a Academia Militar Imperial o que lhe consentia a condição de nobreza de que era possuidor, pelos quatro avós. Formado em 1816, como Oficial de Artilharia, iria dar início a uma vida cosmopolita em prol da humanidade, iniciada em 1817, nos cárceres da Bahia. Ali se encontrava quando rompeu em Pernambuco a Revolução de 6 de Março. Seu pai, o Padre Roma, um dos vultos mais proeminentes dessa cruzada liberal, tendo sido enviado para a aquela província, sempre defensora dos interesses da Coroa, na função de comissário dos pernambucanos, foi denunciado e logo que ali desembarcou, foi preso e condenado à morte. No dia 28 de março daquele ano. A pedido do infeliz Patriota, Abreu e Lima saiu da fortaleza para a cadeia, e, aí, banhado em lágrimas, abraçou seu idolatrado pai que no dia seguinte foi arcabuzado no Campo de Santana e para maior ostentação dessa cena tristíssima, o obrigaram a assistir a luzente festa da tirania, a execução de seu pai.

Fácil é de compreender-se, nos diz Pereira da Costa: “como uma mão de ferro arrancava o coração  transpassado de vivíssima dor de Abreu e Lima, na sua própria frase, quando ele, debulhado em copioso pranto, foi arrancado para sempre dos braços do seu querido pai para dar-se começo ao sacrifício desse mártir da liberdade, dessa vítima do puro entusiasmo pela emancipação política da pátria. Esta lúgubre cena impressionou tão intimamente o seu espírito que protestou naquela solene ocasião do bárbaro sacrifício de seu prezado pai, e, a exemplo dele, por suas venerandas cinzas, daí por diante tudo arriscaria, até a própria vida pela liberdade  de seu país, ou de outro qualquer, aonde a sorte o conduzisse. Em Outubro de 1817, conseguiu ser solto daquela prisão, e obtendo da Maçonaria  uns cem pesos em moeda, abandonaria a pátria embarcando para os Estados Unidos, onde se encontrou com Cruz Cabugá, seguindo posteriormente para Porto Rico, de onde partiu para a Venezuela, alistando-se no Exército Revolucionário de Simon Bolívar, em 12 de fevereiro de 1819. A partir daí, o futuro General das Massas iria protagonizar vários feitos de heroísmo  dando início a uma vida de lutas que só seria  encerrada com sua derradeira participação na Revolução Praieira que lhe valeu o recolhimento ao Presídio de Fernando de Noronha onde ele, mais uma vez, demonstrando o seu perfil humanitário, desenvolveu um pioneiro trabalho de preservação ecológica.

Ausente por mais de trinta anos de                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Pernambuco, ao regressar à sua terra natal, depois de coadjuvar  Simon Bolívar nos principais feitos nas guerras libertárias da Grã - Colômbia, onde desfruta até hoje, a condição de herói de primeira grandeza  o Abreu e Lima era dos mais condecorados nas campanhas bolivarianas. Por ter se destacado em várias batalhas e conquistas, foi detentor do Escudo Carabobo, as Cruzes de Boyacá e Porto Cabelo e, o mais valioso de seus lauréis, a Ordem dos Libertadores. Suas façanhas no Brasil, por uma injustiça historiográfica, não mereceram o mesmo destaque e  reconhecimento que lhe atribuem na Colômbia e na Venezuela e para comprovar essas assertivas é bastante lembrar o que  vimos há pouco: o próprio Presidente Venezuelano, Hugo Chaves, um dos maiores entusiastas de nosso Irmão Abreu e Lima, defender fervorosamente a vinda de uma grande   refinaria  a ser instalada  no Brasil, para Porto de Suape, em Pernambuco,  batizada, também por interferência daquele Chefe de Governo  de Refinaria Abreu e Lima.

Por toda a sua “via crucis”, como um verdadeiro paladino da Igualdade, da Liberdade e  da Fraternidade, enfrentou várias contendas, a mais famosa delas não iria lhe deixar nem depois da morte: “ ao defender o direito dos protestantes em divulgarem suas bíblias, ganhou antipatia do arcebispo de Olinda e Recife Dom. Cardoso Ayres, que lhe negou sepultura no Cemitério de Santo Amaro, quando esse  faleceu em 8 de março de 1869. Porém, numa atitude mais humana ( de que ele sempre foi possuidor), do que autoritária (contra a qual sempre se rebelou), os Ingleses o ampararam em sua última morada, por isso, no Cemitério Britânico no Recife, justamente na avenida Cruz Cabugá, um de seus companheiros de luta e de ideais, logo à entrada, passou a destacar-se uma cruz meio celta, geralmente associada como símbolo presbiteriano com a inscrição ainda polêmica:

Aqui jaz

O cidadão brazileiro General

José Ignácio de Abreu e Lima

Propugnador esforçado da liberdade de

Consciência

Faleceu em 8 de março de 1869

Foi-lhe negada sepultura no Cemitério

Público

pelo Bispo D. Francisco Cardoso Ayres.

Lembrança de seus parentes

Segundo Pereira da Costa: “ Esse ato deu lugar a uma grande questão agitada nessa Província, na Corte e outras mais. Nós, porém, humilhados pela nossa obscuridade, não ousamos dizer coisa alguma sobre esse assunto, contentamo-nos apenas em transladar para aqui as seguintes palavras do Dr. Antônio de Vasconcelos Menezes de Drumonnd, contidas no discurso que pronunciou no sétimo dia do  falecimento  desse herói”, das quais transcrevemos apenas um pequeno trecho:

Senhores, o túmulo é sempre cercado de uma atmosfera de luz que lhe é própria.

Há uma espécie de aurora, que precede à eternidade. A que circunda o leito mortuário do verdadeiro herói,  que por certo, fascina e exalta.

Mas, a que acompanha o cadáver de um homem virtuoso, sobretudo infunde respeito, veneração e saudade a todos que o cercam.

Feliz, e bem feliz quem assim pode despedir-se deste mundo de ilusões, tendo cumprido nele a sua espinhosa missão e voar à morada dos justos, a melhor recompensa por Deus decretada para os que na terra nunca praticaram o mal, mas somente o bem que lhe foi possível.”

 

CARLOS BEZERRA CAVALCANTI

Membro do IAHGP e da Academia Recifense de Letras

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Murilo Gun

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