O prestígio do novo é fato. Mas o velho sobrevive e deixa sua marca indelével sempre. Especialmente, porque dele nasce o novo.
A novidade é filha do estabelecido. É sua superação dialética. Embora a ele oponha-se (como condição de ser novo realmente) e o transponha. A correspondência entre o novo e o velho permanece enfraquecida, mas é.
Não fazer o novo mundo nem refazê-lo. Mas fazer a diferença entre o velho e o novo mundo. Firmemente. O make news poundiano soa como um Fiat Lux divino. E tem efeitos reais. Mas não conta nada quando se apregoa a novidade para manter o status. E se sacrificar em nome do passado. Em prol de uma ordem. Sob égide de um precipício de sombras.
Chega de herois iníquos e maravilhas sem dentes e gargalhadas de pó e impropérios sem ventre. É gratuita, abrupta e em especial profunda a distância, o abismo entre intenção e ação, potência e ato, forma e conteúdo. Se de boas intenções está repleto o inferno, de mau arte – e poema pior, páginas e telas estão, o vômito é do tamanho do enjoo.
O que se faz, hoje, com a poesia, se fez ontem com a pintura. Definir, depender, orientar, canonizar o verbo submetendo-o a uma política franzina ou não, a uma filosofia numérica, a uma ideia castradora, a um sistema rítmico ou não, é empobrecer o homem, dessapiensciá-lo.
Se se deixar escrever poema sob ímpeto do velho, do passado, do envelhecido estabelecimento poético, chega-se onde estamos. Se o futuro não for novo é feto decomposto.
A vanguarda foi uma erupção do novo violento na pele do moderno, chama, mancha, fogo que cauterizado deu início e vigor à nova pele definitiva por enquanto. A exaltação do novo, a exacerbação do advir da forma são caminhos de desenvolvimentos e não o apogeu despojado de suas peles descartadas, apaziguando numa forma definitiva provisória, como deve ser toda arte, da palavra ou não.
O conformismo leva a lugar nenhum, a convenção não leva a lugar algum. O clichê não é filé, é carne de terceira. (ver Alberto Cunha Melo).
A uniformização da arte literária do soneto ou equivalente obedece aos preceitos, aos princípios, ao rolo compressor, à exigência do industrialismo cultural. E cultuamos deuses antigos porque os novos são perigosos. O soneto é mercadoria boa, moeda de curso fácil, difícil de falsificar porque tem fôrma certa... e fácil de copiar. A imitação é uma arte (capitalista).
O soneto é a forma literária mais capacitada à reprodução (mecânica ou não) em massa. O selo soneto é o selo do velho. E sempre novo. Sempre bom e velho soneto.
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