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Com base em fragmentos de um texto de 1915, procedo à reconstituição criativa abaixo.

“Como mandante, Deus comanda... mas nós, mandatários, quais políticos modernos, não temos obrigação pessoal de cumprir mandado de Deus...!

Ou sim? Eis instalado o atroz e perfeito dilema humano, que atravessa a história e toda a eternidade. E o tal livre arbítrio, e a margem de liberdade (absoluta conf. Hegel)...? daí, minhas considerações preliminares, que junto aos autos do ser.

 

Primo: quem mata é o destino, não o outro (dificilmente a outra), embora aconselhe a minhas queridas leitoras manter distância do próximo (e mesmo da próxima)  ao máximo, na vida tão transitória... e bela, afinal, por que não!?

Isso aplica-se bem em especial ao Brasil, onde magotes de milhões de misóginos escapelan o coração das mulheres e o traem pra fora. Jogado nos lixos da vida... tão brasileira e desgraçada... de hoje em diante.

Chego a sugerir a elas: faça sexo à Barbarela, sexuem com máquinas macias e amorosas, de vitalidade mecânica, quanticamente eréteis etc. Que tal falo de átomos viris e enérgicos... ou pênis aloprados de marciano vinil...

Agora, começa o conto. Antes, anotem: a Morte é fêmea... e brasileira, como Deus que a criou, para conservar o homem bem longe, além da alma, inclusive. Indago: Não matar o quê? Ratos... como no romance do prêmio nobel ianque Homens e ratos.

Joadrex era um caso sério. Dede jovem, pensava no suicídio, porém – como magnífico cristão – se deparava com o divo mandado não matar. E especulava: isso se aplica a si também... ou só ao outro?

Findou – embrulhado em tal embaraço – vivendo até os 86 anos. E, quando morreu, reclamou não ter cumprido sua sina de assassino de si mesmo.

Trate a si como Deus manda tratar os outros. Cínico sofisticado, Joadrex, questionava os benefícios práticos das regras áureas dos mandamentos de granito, esculpidos em pedra (colocada no meio do caminho humano). Açoita e serás açoitado, matas e serás morto. Olho por olho. E autolinchar-se, como sonhava, qual consequência reativa? Quando a linchamentos, a lei é clara: dente por dente e os olhos da cara.

E o tudo o que queres que os homens vos façam (ou não), não o fazei (ou sim) também, talvez.

E, desse emaranhado, Joadrex não saiu bem.

Aí, chamo à colação (fala o personagem Ajaxial, que se intromete no conto, por deferência do narrador) Kant. E adito – aos tais autos narratórios, dos quais passa a fazer parte, à parte, o imperativo “não mate” do Categórico Deus, que teria a ver com pecado ou moral??

Se prego suicídio, adiz Ajaxial, e não o pratico, serei imoral? Então... cabe a leitores me desenganarem...

Não matar e perdoar os que matem... a benevolência como perversão, conclui o tipo. E se define: sou egoísta até o altruísmo. Saindo de ceno (do conto vital).

Retomando, Joadrex encerra essa infarta ficção, confessando. Já matei um cara qualquer. Para preservar minha vida e de uma amiga. E não matar, mesmo em legítima defesa da vida? E morrer por isso? Hein!

Posto ter lido este conto ainda em formação, o personagem (principal?) Joadrex comenta: nas preliminares ou nos introitos deste, alguém disse que quem mata é o destino... concordo que há algo que sobredetermina, escreve, mapeia o curso futuro dos eventos, instante a instante, de modo inexorável. Cleantos, filósofo grego, gritava: a sina (moira) guia, orienta, leva os que concordam com ela e arrasta os que discordam. Até presidentes corruptos obedecem aos mandatos das moiras.

E se seu destino é matar alguém, como contrapor tal ao mandado peremptório de Deus? Como ajeitar as coisas brasileiramente corretas?

Por fim, leitora-prévia pergunta. Morte e vida são polos tais que se, se inibe um, o outro enfraquece, incluindo o conto. Ou: se Deus eliminasse o mal (inclusive da morte, o que dispensaria o mandamento em riste, bem como este contônimo), não precisaria mais existir o bem... e a vida também.

NOTE BENE: Se você leu até aqui, o texto tá fazendo efeito. Do autor intrometendo-se.

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Murilo Gun

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