Para o psicólogo Messias Adriano de Freitas
Política é coisa de idiota? Indaga o filósofo e cronista exímio Mario Sergio Cortella, em seu livro Não se desespere (provocações filosóficas), da editora VOZES. Esclarece Cortella que a expressão idiótes, em grego arcaico, significa “aquele que só vive a vida privada, isolada, que recusa política, que diz não à política”. Portanto, idiota é o inverso de cidadão. Os gregos apodavam como IDIOTA quem abominava a política.
Então, decreta o filósofo Cortella impiedosamente como o deva ser verdadeiro filósofo: Houve, no Brasil, um sequestro semântico radical, uma inversão do sentido original de IDIOTA, a ponto de muitos pensarem que só não é IDIOTA quem se feche dentro de si, se isole politicamente, somente se interessando pela vida no âmbito pessoal.
Portanto, IDIOTA (total e irrestrito) é quem proclame alto e bom som “Não me meto em política”. Sou apolítico (idiota). E, num último e certeiro disparo, Cortella fuzila: Os ausentes nunca têm razão.
Pode-se (e deve-se) questionar determinado modo ou atração de fazer política, porém nunca idiotamente (ignorância crassa) proclamar apoliticidade como posição sábia, normal. Pois é atitude idiota literal. Posicionamente ingênuo cercado de idiotia.
Transcrevo literalmente Cortella, abaixo. “Não se confunda político com partido. Partido é uma forma (um meio) de se fazer política. Por exemplo: uma escola não deve partidarizar o debate, porém politizar o conteúdo. Mostrar que política e cidadania são a mesma coisa. A diferença é que uma está escrita em grego. Outra (cidadania) em latim”. Um veio de polis. Outro de civitate. Ambos significam cidade, sociedade.
Já houve tempo – e segue – em que idiotamente a palavra ideologia revestia-se de alta perjoratividade em sua conotação, assim como o fato do cidadão brasileiro ser político... muitos enchiam a ridícula boca: sou apolítico, isto é, idiota. Thomas Mann disse-o em 1917: “ser-se não-político ou antipolítico, numa condição em que se joga o destino humano ao rés do chão e desvaloriza a ação cidadã, equivale a ser-se reacionário ou conservador”. O que não falta hoje, caras que temem o próprio futuro.
{jcomments on}