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Qui, Abr

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O famoso fotógrafo Brassai – que, ao dia, acompanhava Picasso em suas escavações e operações pictóricas, registrando os lances, e,

à noite, se juntava com Henry Miller, em peregrinações noturnas perambulando nos prostíbulos e imergindo no bas-fond. Em busca das narrativas millerianas, esse fotógrafo famoso dizia que captava da fixidez ardente picássica (falo de luz viva que uiva como lobo coral) a mesma intensidade que Leo Stein (mano de Gertrude) observou, afirmando que a luz dos olhos de Picasso poderia queimar as palavras de um livro que o espanhol lesse.

 

Outra situação picassiana foi a produção em 1932 de dois óleos enigmáticos e saborosos de uma jovem modelo adormecida: o sonho e nu dormindo.

Delicadas e curvas linhas perfeitas (e bem carnais) e o tênue e elegante – embora bem lascivo - arredondamento glúteo modelado.

A Olga – a bailarina sofisticada mulher de Picasso – intrigava e perturbava a imagem impudica de uma bela adormecida que pousara para essas duas obras de arte calmamente voluptuosas.

A modelo nua era a dócil e majestosa adolescente Marie-Thérese Walter que iria capturar o genial fauno, o touro minotauro, o catalão prodigioso na cor e no sexo. Aos 50 anos, Pablo Ruiz iniciou o excessivo e possessivo amor clandestino com uma moçoila de 17 anos, capaz de incriminá-lo por pedofilia.

Começou, a partir da modelo-amante uma virada na obra picássea, ativando um novo estilo, que, no início, pelo cio que o motivava, não teve boa recepção.  A ponto de Carl Jung disparar: a inspiração de Picasso parecia um caso clássico de esquizofrenia.

Na verdade, as poses nuas da mocinha, que o fauno devorava, com os olhos e pinceis em ristes, em especial a tela Moça ao espelho, que Jung, pela deformação  refratária – o torcido desenho – considerou delirante e anormal - essa obra representou uma ruptura vital na trajetória do “touro catalão”, tornando-se uma tela seminal de nova fase.

Coerente com a libido desarvorada, Picasso adotou o ser do falópico minotauro, e produziu a série excelente (que tenho em reprodução) de gravuras Minotauroromachie.

No entanto, o reforço vital à nova visão pictórica veio de duas obras: O minotauro e a fêmea e O fauno devorando a moça. E Picasso usou não pincel, mas o próprio falo, talvez.

No entanto, pasme-se, a modelo das obras das duas telas não era a menina, mas a altiva fotografia Dora Maar (cujo retrato é lendário).

Uma ciranda de trocas de casais marcantes ocorrera. Paul Eluard – o poeta maior – apresentou Dora Maar a Picasso. Eluard, por sua vez, perdera Gala para Dali e tomou a bela Nusch de outro, com quem casou para sempre. E Nusch virou tema de um retrato de Picasso – ela e Dora. Com Marie-Thérese e Dora Maar Picasso, ao meio das duas edificou-se um ménage à trois durável. Picasso chegou a usá-las como modelo juntas: no cavalete e na cama.

Adendo: Picasso era fiel a seus cães companheiros, e não era fiel às mulheres companheiras. Daí, ao usar o rosto de Dora Maar como modelo insinuar o focinho de Kazbec, seu cão afghan, e orelhas caídas para caracterizar a natureza animal das mulheres.

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Murilo Gun

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