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Qui, Abr

destaques
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Desde daquela hora Pirata de 1982, dúbios passos trocando pés e pernas pelo meio fio, calçadas, asfaltos entre o Capibaribe e o Beberibe até a Livro 7 – tudo acontecia ali, asas livres na rua - para voar o céu do Recife além do Brasil e planeta.

Mais fizera da intromissão do verbo a minha invocação pra saber do Burocracial e sem saber do Título Provisório nem que Só às paredes confesso, o Palpo a quimera e o tremor, ou Ora Pro Nobis Scania Vabis. Só agora, a vida à deriva e de pernas pro ar, dei de cara com o Bando de Mônadas revisitando Liebniz, quando o poeta se confessa atravessando o pomar do apocalipse, preparando seu próprio féretro pra viver aos extremos e além deles, insepulto na sua morte voluntária entre poemas surgidos do nada da intuição, confissões, loucuras de Catuama abarcando úteros e partos abandonados nas ruas de Palmares, com as cinzas do ego pelo céu vagaroso de Garanhuns, palavra como valor de troça nas metades perdidas do ser pra viver além da redoma de si, dos limites do plano cartesiano, das medidas e comprimentos. A sua Poesia Absoluta é feita de vida: sem explicações, regras, significados ou necessidade de compreensão: vive, apenas, simplesmente, e o poeta cônscio de sua natural vitalidade vocifera lírica paradoxal enraivecida por oxímoros que recriam sintagmas destronando hierarquias, taxonomias, distinções, porque o id vital é um jumento priápico celebrando a paudurescência das orgias dionisíacas na festa dos escombros da decadente sociedade neoposmoderna e despótica, tão corajosa quanto Dom Quixote enfrentando seus gigantes moinhos, tão desafiador quanto o eco de eu oco de Eliot e as provocações dos muitos eus Pound, Zizek, Cummings, Valéry, Wittgenstein, demasiadamente humano Nietzsche e tão ousado quanto o lance de dados de Mallarmé, tão intenso quanto as disparadas do Finnegans de Joyce, tão iconoclasta quanto o brincarte de Ascenso, tão paradoxal quanto a vida daquela tribo do Informe de Brodie da cegueira de Borges traduzida por Hermilo. É correr risco, o sema mata e ler VCA causa AVC e o leitor pode se perder no meio da poesia pura doída e doida contra o euismo poético com seus monósticos de carbono priapoéticos – respire fundo antes de usar – para a sublime incompreensão total: entender não é preciso, poetar livremente sim, isso sim é preciso, a talvez sincera confissão final no futuro que não virá nunca nas meditações do abismo profeta pra quem sabe Deus nos detalhes (nas reentrâncias de um punhal navalha e cutelo), demolindo sintaxes e sentidos – só o significante, nada de significados, esses pra lata de lixo! - pelas rieiras inóspitas das faces humanas com o peso da culpa, dos esgares, da usura nos omoplatas e o tempo escancarado sem horas nem contagem nem medidores no labirinto imprevisível: nada de inspiração, piração é a palavra de ordem! Que diga, ué! E só, dizer  e dizer mesmo sem ter nem pra quê, ora! O que é ao se revelar pode – ou deve - ser reconhecido como outra coisa, outras mais, muitas: do útero à cova, tudo, a semente, o fruto. Salve, salve, Vital Corrêa de Araújo.

Imagem: arte da artista plástica e desenhista Cyane Pacheco

Luiz Alberto Machado

Murilo Gun

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