De carne e claridão,
À sanha dos desejos das mãos,
Esplende teu corpo e eu espero
Teu corpo,
Mar e leme,
Ilha, solo úbere de gaivotas,
Campo de espigas, enigmas,
Teu corpo,
Uma água esbatendo o cais,
Salpicando-me
As mãos que te desejam e sangram
Em luz e madrugada,
Lavradoras da terra
Onde és plantada,
Até a eternidade dos frutos deflagrados.
O desejo é ter mãos ou sonhos?
O desejo és tu ou este desespero de poema?
Em teu corpo,
Prende meu desejo e navega,
Além das mãos
No aquém-mar do ventre.
Teu desejo, esse meu incêndio,
Ilha e solidão?
Sêmen ou semeação?
Meu amor
É maior que a tua sede,
Meu corpo de pescador perdido
Procura os horizontes e o peixe,
Com quem divides
E desvendas o mar
Teus seios,
Aves gotejantes dos céus,
Cumes atiçados por voos
E eu,
Plástico amante telúrico,
Enraizado entre pedras
Nascidas na planície.
O amor lavrou a morte
E minhas mãos te escavam inutilmente.
Chobia na terra escurecida,
A tarde espiava
Os últimos visitantes de teus púbis,
Eu te expiava
E fiquei submerso
No sonho tão pássaro,
Como pedras que corroem
As mãos do náufrago.
E corri em busca da brisa,
Na sede de partilhar
Do teu corpo alisio.
Eis a tempestade,
As distancias desencadeadas,
E o meu teu corpo mutilado em mim.
Fugi de teu corpo,
As mãos são partidas
E eu espero
A frutificação dos dedos, o desejo,
A esperança tornada pedra,
O gesto de te tocar eternizado,
Eu te espero em todas as manhãs
Para o embate indomável dos corpos
Amantes e desesperados.
Eu espero novas primaveras
Renascerem em teu ventre,
Eu espero
Teu corpo
Me espera.