Rostos arruinados, pavilhões enfermos
grades delirando, asilos velhos, velhos puídos
caindo aos pedaços pobres: a vida inválida.
Fiz faxina no cérebro
(como Dilma nos ministros estradeiros)
tirei tudo o que não prestava
excessos da bagagem retórica
tudo que arruinasse o texto da vida
e pus (todo o fel e panarício
administrativo federal de meu miolo)
nauseabundo unguento no papel
em forma de prosa ou vômito.
De mulher para mulher:
silicone seio
bunda turbine e pronto.
Haja macho a rondar-te o corpo
amaravilhado, intenso
como urubu a cadáver novo.
Todos os pactos do ocaso cumpro
detidamente.
Códigos fervilhando menoscabo.
Os intestinos do labirinto penetro
e seus líbios (mordo com mandíbula de pedra)
a prata ferida de seus meandros)
seus dentes de sombra adentro
impune às claras.
Do estribo cerâmico dos búzios extraio
Conchas de canções e celofane de musgo
Combustíveis profundos, partituras
De eras paridas, grafites ecumênicos
E dias incendiados de duradoura sombra.
Na treva crua, na terna infiel
cravo meu nome, minha anônima sina
do hálito repulsivo e distante das estrelas
(me) alimento (o poema).
Rondam-me dúbias verdades, ordens de discórdia, pomos entristecidos, teias oblongas, cavilosas quelíceras encinerações do suores, lágrimas sobre ácidos, máscaras derramando-se jorro de rios cativos encapsulados nas pálpebras do absurdo correm como cavalos nos disparados paramos
Jarro de rijas horas, ramalhetes de crônidas mulheres nas retinas do tempo, esse outro rio do trânsito das veias, encerradas devotas horas peninsulares, messes de instantes sem ventre.
Vastam-me, opróbrios e astúcias esferas ubíquas, purgatórios brincos, sensibilidades úmidas me seivam anseios de naufrágios, idealidades turvas, comícios e tundras
insultam-me.
Orne-me de desventuras, apegos, gozos inúteis
seminários óbvios, mórbidos dias, tenazes de sílabas
bílis e óblos de rapaces carontes
destroçando-me a alma raízes impotentes.
Ato-me a ti sem peias ou duradouras sereias, mastros
recolho na alma, amarram-me certezas, visões iluminanem os olhos
encantam-me o silêncio e a nudez que me dás.
No meio do caminho desta vida selva
e escura concedo o rosto, à átimo que o assalte
à pátina que o contemple como puma no limiar da garganta
nas dádivas
de minhas retinas fatigadas encontro-me
supremo e puro serviçal, das musas e do assombro.
No meio da vida o caminho salva (margem do meio)
A senda palmilhada pela palavra
(As panteras dadivosas de tua alma
os linces habitados por teus olhos
engrenados na página)
o amotinado verso que da pena salta, a rebelada tinta
que assalta a lauda (e cria a mancha da imaginação)
o espírito da palavra congregam-se no poema.
O rosto lego a quem lamente ou encante a quem o seduza ou mascare como equimose ou nódoa lenta
que o ácido da hora comemora.
A quem o modele ou torture
com perícia de silicone e fácil alicate.
Concedo meu rosto ao pássaro ou à agua
ao porvir da cútis (que começa na botulina).
Ao tempo lavrador, ao sulco das horas, ao trânsito dedico
e a anjos violados oferto o rosto mudo e casto.
Ao cansaço não o nego (o rosto)
nem ao faminto remorso que esfaqueia lembranças
dilacera peras, exibe desesperos, macias maçãs do peito amasso
e tudo que acosse o rosto nas duvidosas e mundanas manhã
da vida dedicada ao ofício de não ser.
Recuso o rosto a gesto que Albergue a morte. No meio do caminho desta vida selva servada treva
nego o rosto e a pedra. Ao jângal (e dunas moventes)
concedo a alma íntegra.
Me dispo das ervas, imerjo
nas celas, vórtices, sumos das águas-mães liberto.
Vital Corrêa de Araújo