Numa manhã alemã vi Hegel
já longevo à beira do eterno
a meditar e beber
em longos cálices
goles de absoluto.
Vi Hegel perdido
numa encruzilhada da razão
das esquinas do ser sobraçando
maços de contradições
tomos dialéticos na outra mão
a emitir apólices
do espírito absoluto ao mundo
ensinado à alma a negação do corpo.
Vi Sócrates inconstante
a ser eterno
a cada instante.
E Platão assombrado
com sua própria sombra magra
a passear nos jardins de Academus
colhendo flores retóricas
entre corbelhas etéreas
a olhar o céu em busca das ideias.
Vi Kant desencantado
com a coisa em si
a colher rosas de nôumeno
num jardim agnóstico.
Do abdome de tempo
e de suas mandíbulas aladas
extrair aporias.