A morte é o nosso outro. É um ser
(a morte) imortal (como Deus que a criou
do mesmo barro da vida, porém
mais bem cozido e misterioso).
Presa do tempo o homem encontra
na morte sua liberdade (final).
Resta ao homem privilégio:
não faça sua morte estéril.
(Fecunda-a ainda em vida plena plenamente).
(O segredo é olhar a morte com olhos jovens).
Enterrado em sua solidão o poeta
exaspera o dom e canta o desencanto
canta o mundo em si (nele e em mim).
Canta as horas restantes e sonha
o branco da mortalha (alada para a alma).
Canta os vestígios do espírito
que deixará na pedra impregnada de dor voraz
veraz dor de ser. Pois o não-ser é indolor
no cárcere final encontrará o túnel
semluz onde jaza a máscara mortuária
a verdadeira (e não má) máscara humana.
(Se o tempo morre, pergunte à água.
À água múltipla e mesma de Heráclito).