Bebo horas da súbita concha da aurora
nascentes dos olhos brilham peixes ao sol
fulgor que estrelas noturnas esqueceram
no dorso das enseadas cruéis de abril
ou doaram ao sol-irmão inóspito e puro.
Na bacia do olhar recolho vísceras de luz, estojos
ígneos, fêmures de Febo, topázios longínquos
rastilhos do amanhecer, sonos de pássaros, verbos
de sombra, pântanos de vida, espelhos, gumes de ágatas.
(Recolho imo de Dido abandonada da víscera de uma rocha
do útero do desespero, e anáguas de Penélope
dilaceradas na crua orgia dos amantes).
E restos ou sílabas adormecidas no eito do coração
sob alento mutilado da palavra demiúrgica
ou rumores do sopro original ávido de verbos
sombra da primeira garganta, músicas de urzes e sapos
de cigarras, rãs e grilos a sinfonia primitiva
orquestrada do vestígio do som
de pássaro.