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                                                                    Cláudio Veras

Volto – pela undécima vez – a tratar da poética de VCA, e o faço com a vaidade de que acompanha essa trajetória constelacional, desde os idos de 1987, quando César Leal (o realmente imortal poeta e crítico maior) estampou, por três vezes, análises sobre a poesia de VCA, no Diário de Pernambuco, em especial Tempo de Poesia e Rítmos Cíclicos em Vital Corrêa de Araújo.

Também do meu conterrâneo, do crítico paraibano, que.........., Hilderberto Barbosa, seus dois ou três ensaios sobre VCA. Há mais de 40 anos, mora em Heidelberg, onde ensinei literatura brasileira por três décadas.

Demoro a abordar o trabalho poético de Vital porque ele não se comunica comigo. É como se e-mail, celular, correios, facebook não existissem ainda para ele. No último contato recente, ele me disse que está em greve (?) e que fez votos de solidão – e vive num brejo do interior de Água Preta.

            Avaliem a anomalia tecnológica: VCA soube só agora que possue facebook há dois anos, presente de um amigo que fizeram seu perfil e gerencia a mídia. Só agora, após quase três anos, VCA descobriu que havia um a-mail do site poesiabsoluta.com.br, com 600 postagens, desde 2012. Partindo do que ele diz (nus confins da pátina é onde vive minha palavra, e a miséria do verbo é minha pátria), e ao receber A Semata, A expensas e Lâmpada sepulta (calhamações de mais de 300 poemas, é que concluo: VCA produz antipoemas, em constrate com a poesia viva de hoje, no Brasil. Ele se recusa a se integrar (na e) com a ordem poética vigente, simplesmente. Seus temas não são seus amores, É como se não estivesse vivido a infância.

O mundo poético onde imerge – e que ele escolhe – está à margem da decadência poética ................... (fuzila VCA). Seus poemas são curtos e alongados e exploram: pedras, ângulos, cones, réstias, vitrais, ..................., tempestades, vésperas, cubos, armistícios, lâmpadas, escuros, as vezas, os aléns, expensas, volúpias,. Além de cotovelos vermelhos, aqueles estrábicos, ombros de touro, luzes frias, formas ávidas, dobraturas do tempo, colmeias circulares – e Borges infinitamente Borges (sendo eu o responsável, desde 1983, pois sou paraibano de Catolé do Rocha, terra da mulher dele, mãe de GUN).

Os movimentos minerais da palavra e quaisquer vazios hostis, desalegrias (e destristezas), a plenitude viva, as errantes noites e os estábulos por Áugias abandonados, tudo é impulso ao poema.

Tudo o que escrevi – e que soe estranho desentranhado da vida absoluta – isto é, entranhado de banalidade vívida – recolhi do livro SEGUNDA EDIÇÃO, inédito, que VCA me remeteu via e-mail.

Realidades bursáteis, a verdade dos dividendos, o crivo das cotações, o enfarto de debêntures, ágio que ungem e sujos deságios são os temas vitalianos. Ao se recusar pertencer à ordem poética estabelecida no Brasil d’hoje, VCA está corrente com sua poética (insensata, porém verdadeira).

Desde Giotto, a pintura foi orientada para a conquista, o desvelo, a apreensão e o triunfo da realidade (realidade em ascensão, mecânica, eficaz, capitalista).

Desde Vital, a poesia está desorrentada da realidade, está – digamos – potencial e impotentemente desrealizada, a realidade não cabe nela, ela desdorda, é maior que o tema (ou os motivos dos negócios – então não fecha contratos com editoras), choca, porque ela (essa poesia) é o real 9é pra mim uma espécie de religião, algo verbal que realizou, em meu espírito, as disparidades benévolas, as malevolidades do mundo, em suma, atou as dispersões do eu perdido no mundo polifacetado de hoje. E só um poema multifacetado de sentidos inóbvios foi capaz de me ativar o ser, de novo.

É que os poetas costumam tratar a poesia como construção de reflexos, sensações, refluxos, sentires, emoções, pessoalidades, publicação do íntimo etc, e buscam captar o efeito efêmero da aparência (do mundo que é comum a todos – concepção ingênua) ou flagrar reflexos irrisórios como vitais. Cientes que são de que o poema tem de revelar um mundo divo, o lado de lá do ser, sua continuação (e começo) em Deus. O que era reflexo passou a ser ação. E a natureza vista como reflexo da alma. Tipo, o reino do homem não é desse mundo.

            VCA abusou desses filões cansados do verbo (como ele escreveu ou e-maillhou), da palavra extênua, vestida de cansaço, da brancura dos cisnes e dos nimbos... e ‘’da luz em silêncio que cerca os olhos da estátua’’. Viva Vital, como disse e estampou no Jornal de Letras, Maria Luiza Condé.

           

Murilo Gun

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