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Qui, Abr

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                                                                                    VCA

         Preconceituei em artigo de jornal, há pouco, poesia pura – não no sentido de Henri Bremond (poema impoluto porque eficazmente padronizado, literalmente convencional, ao extremo lavorado)  - a partir de Paul Valéry – que, segundo Álvaro Lins, “dá a entender que seus versos nada querem dizer, além ou fora da poesia”.

            E foi com o intuito de poesia pura, com o propósito de valeriar, que escrevi “este poema se chama homem e é incêndio” e o dividi com outros poetas da mesma taça.

            Entre poesia, poesia pura, poesia absoluta, verso livre, lirismo objetivo me disperso. Daí, Rogério Generoso, generosamente dizer que as formas de expressão e realização do poema, em VCA, são muitas e diversas.

            Sobretudo, tenho na plena consciência a distinção ou conhecimento prévio de que uma coisa é o sentimento e outra – oposta – é sua expressão artística.

            Quando as sombras se calam (e a máscara floresce) é preciso mudar o poema sob pena de perder-se na floresta de símbolos.

            Isso porque cada poeta é singular, ou melhor, é uma exceção, que confirma alguma regra.

            A reconceituação de poesia como poesia absoluta começa por distinguir absolutamente forma poética de forma prosaica, como uma questão existencial da poesia (como o diria o mestre Álvaro Lins). A linguagem, na poesia, tem caráter mágico e não lógico (como na prosa). A poesia tem o condão de elevar a palavra a outra dimensão, a conter um pequeno universo como alicerce fincado na vida histórico-filológica da palavra.

            Em verso, é impossível explicar – como em prosas – qualquer coisa. Então, mensagem zero. Daí, o poema não conceder (ao leitor) quase nada, além da essência do essencial (essência à quinta potência).

            Como linguagem fora dos padrões ordinários, normais, vulgares, prosaicos (não artísticos), o discurso poético encerra, propicia, traz uma significação múltipla, polifacetada, promove um significado oscilante, pleno de ambiguidades e hesitações lógicas, sentidos indiretos e flutuantes.

            Álvaro Lins, é sincero quando diz “Tenho comigo que esta moderna forma poética (verso livre) é muito mais difícil que a antiga forma que exigia metro e rima”. E continua o mestre crítico. “Repare-se que há uma facilidade formal na poesia moderna, mas apenas aparente”.

            É que no poema convencional, os poetas se igualam, o soneto é soneto, independentemente do poeta, é uma forma que se generaliza e todos são de certo modo sonetistas, coletivamente. No verso livre, exige-se uma singularidade, posto que não há um padrão formal, externo, característico de uma comunidade que usa tal forma fixa – e assim ainda fixa-a mais, entre poetas e leitores (pré-poetas e pré-leitores nascentes etc).

O soneto exige somente a substância poética (o conteúdo, o tema, a matéria, o enredo, a história, a intriga etc) para encaixa-la numa forma preestabelecida. O verso neoposmoderno prevê e implica uma dupla exigência: substância, e forma adequada, particular, singular, não dada de antemão. Muitas vezes, a forma nasce do momentum poético.     

O novo poema encontra sua posição vital, quanto à vida. A morte é apenas um efeito perverso da vida perversa. Não é dádiva, acontecimento, recolhimento entre os seres, mas complexidade de Deus e da vida.

 

           

        

Murilo Gun

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