DEDICATÓRIA VITAL
à atenta loucura dos homens partidos
a momentos de náuseas e carnívora ansiedade
à poesia, essa selvagem fábrica de metáforas.
Poeta apenas assalta palavras para salvar a alma.
Ou alguma ideia de náusea.
Para poeta, palavras constituem a única realidade possível.
Poesia e filosofia (não) são (dizem) a mesma coisa
com estilo e cautelas diferentes.
“A escritura não tem um fim em si mesma
porque a vida não é algo pessoal”. Parnet
O poema, antes de ser representação ou pário jogo
é objeto. Antes de ser prazer, é abjeto.
Perfeito lance de dados
mallarmaicos demole ou confirma
o acaso.
Homem imita o Homem, eis a sua perdição,
o seu inferno mimético incurável.
A incerteza do significado eleva
à condição de linguagem dos fatos a poesia.
Quem furtou cálices
dos lábios da náusea dominical
quem fez fulgir o abandono em mim?
Quem não me encontrou em si.
A quem devo o retorno do vômito?
Talvez a ninguém. Ou a uma boca nômade.