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Qua, Abr

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            Poetas são covardes. Destituídos da coragem de ousar exatamente porque poeta é romântico. O auge do soneto foi uma época prodigiosa, e sonetistas, antes e depois, compuseram o que de melhor houve ou haverá no âmbito dessa forma.

O ápice foi alcançado, a partir do século XVI. Com Camões, Gôngora, Lope de Vega e mais prá cá Quevedo, Bocage. Lá vieram 500 anos... e poeta, que não tenha produzido ao menos três sonetos bom, não o é. Nem poeta, nem bom. E bom poeta é categoria prime.

            A covardia poética consiste em não mudar as coisas, comer pela beirada, mas nunca atacar o principal. Deixar o melhor para poeta absoluto.

            Conheço, acho, quase uma centena de poetas que sempre dão um jeitinho de botar rima, meia rarinha, mas tá lá para comprovar: sou poeta. É a mensagem não tão subliminar ao povo. Quem leva mensagem é o valoroso carteiro.

            É uma marca manter a tradição isto é, as marcas de metrificação, rima, estrofação regular etc.

            A ousadia, em renovar, rupturar, transgredir realmente, estabelecer um novo estilo, inovar, recriar é zero. Ou quase. Prevenidos de mais, não se arriscam nossos valentes poetas. Ficam na sua, porque sonham em ser astro poético da massa. Ao menos da massa da classe média. Errado, esta, hoje, só entende de usura e prazer.

            O uso do diálogo que se prega para justificar o poema como meio de mensagem (independentemente da qualidade lírica e poética, apenas interessando o poema como veículo de comunicação) esbarra no fato de que nós, humanos, o utilizamos para dialogar, quando a premissa é: desde que sejamos humanos. Daí, mecanicamente mover a poesia, como arma de comunicação, é ser apenas fisiologicamente humano.

            Não porque se dê ao homem o milagre da fala e ele a exercite, é que sobrevirá o acontecimento histórico essencial: o diálogo, desde o diálogo.

            A propósito, um velho livro luso, de Casais Monteiro, A palavra essencial, é vital.

            O ser do homem se funda na palavra. Que vem ao ser como diálogo. São citações de Heidegger. No caso, a palavra não é a religiosa, é a palavra lírica. E envolve escrita e fala. O problema é que menos de meio por cento dos viventes tem noção, consciência ou utiliza a palavra como fundamento de si.

Murilo Gun

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