Através da poesia entrevê a alma
os resplendores bem além do sepulcro.
Vigor e saúde retórica de Hugo
poderio sem candura de sua voz
atrai e atemoriza a debilidade de Baudelaire.
Espírito enamorado da beleza perfeita
em sua incredulidade e absoluta crueza real
Baudelaire diferia de Victor Hugo
em toda a extensão
da admiração a que se devotava.
A desmesura morava em Hugo.
Já Baudelaire amava o feitiço da palavra.
Eram verbos poderosos e díspares.
Baudelaire pressente que a partir de 1850
o sonho de Hugo será tumultuoso
prenhe de volumosas imagens
de ímpeto e tempestade
arrebatadas com a velocidade
do caos fugindo.
Em Baudelaire e Hugo, a morte.
Arrojar-se até o mais fundo do incerto abismo.
Que importa céu ou inferno, se hemos
de encontrar algo novo?
De mim só permanece o afã de saber
um grato anelo até o mundo das coisas possíveis
uma ânsia de beber das águas que fogem
ainda que fora nas mãos infecundas da noite.
Baudelaire buscava um mundo em que
a ação não fosse irmã do sonho.
Bem como sentir uma vez que fosse
a presença interior da eternidade.
Todo poema é visionário. Todo poeta
instrumento inábil do destino.
Poço de metáfora também
afoga poeta.
Corrompido pela fantasia
ébrio do verbo
esvaziei a vontade
desconheci a dor
e não mais emergi
do mar indomado de mim.
Feitiçaria esotérica a poesia.
Áureo silêncio do rumor diamantino soa
do ventre do topázio
da frigidez da esmeralda.
Luz incerta que invada subúrbios
rosto árduo que incendeie silêncio
poema para não dormir.
Claridade furiosa exibe a manhã
para mascarar sua dor
de iluminar o homem.
Do ângulo de um rato
vê-se melhor o homem.
Toda a volúpia se dissolva
dos sais das noites sem limites.
O homem só precisa
de sete palmos por baixo da terra
e sete hectares por cima.