De invisíveis dons prover a mão
que a pena envergue o mundo
(alveje escuro coração
alma cândida apedreje
com o chuço do poema)
como alavanca, sentinela ou detalhe.
A poesia deve ser feita somente
para quem possa auscultá-la
e não ouvir estrelas lentas
ou soletrar constelações brancas.
Vê-las antes que a pena salte do papel
lince sobre presa
na branca selva da página
(alma do papel)
jângal de letras.
Pelas vias do tormento, pelas veias do absinto
(em torno de abstratos hortos)
pelas portas célicas, aortas cínicas
pelas artérias do obscuro viaja a poesia
até clareiras do desejo beduíno
até areias desmoronadas dos muros
até chuvas do insano e da vertigem
até verão da aurora moribunda.
(Às clavículas do sal ofereço este poema
e aos músculo da alma).
Que velho sino trema
sob ímpeto de prata
badale o fúnebre
dobre das horas
mortas apunhalado
do lume intrépido da passagem
atravessado
da luz ferrenha da palavra avassalado
antes que se decrete silêncio branco
e reboem manadas do etéreo
antes que cavalos da eternidade sem freio
tudo pisoteiem
irrecusavelmente calmas
onticamente determinadas
as coisas pareçam selvagens
(como um gerúndios ou uma apoteose).
Antes que rujam atanores
sob assédio de relâmpagos negros
sob rasantes de açores surdos (de aéreas mandíbulas)
e rajadas de Deus no rosto
ante comunhão das palavras no poema
tudo rasteja, tudo se ergue
esplende cinza, pó esplende.
E eco de ídolos demolidos ampare
teu nome distorcido.
E forjas de ouro embalem a vida
(ou idolatrem abutres).
Vigílias das horas interrompam dor
a preterir sonos de pedras
pois o tempo do verbo é redondo
e o lugar da palavra o poema.
Com pressa séquito segue no esparadrapo do passo
até desenlace, até dissolução ansiosa da palavra
cobra pelas picadas da cidade espalha
veneno devoto, doença social sinuosa
e prossegue
até o corte
até a morte
até o disforme
e avança até que volte
ao labirinto natal
caos inicial
(o séquito morre, cessa
à beira do céu).
Esta crua meditação
oferto ao tigre e ao cordeiro
do poema anterior
e a leitoras desleais.