Latada de cidreira e o abraço da malva rumorosa
gerúndios de mostarda e batalhões
de camomila de guarda
na entrada do coqueiral à esquerda do riacho pendurado
à beira do precipício branco.
Ao longo das entranhas do vesúvio de acácias
alfarrábios de lírios e tulhas (argilosas)
de erva doce entre redondilhas de rosa
flores abençoadas por gestos de baunilha
se juntavam ao mais doce ainda zumbir de abelhas sem mácula.
Néctares voando, pólens bailando, o riso do jasmim
se espalhando pelos corações dos jardins vazios
concatenados o brilho dançante da pétala
e o verde do cálice da flor
tudo se une a anunciar a manhã
que rebenta do solo ubertoso das Vertentes.
É a aurora que desponta
pressurosa e ridente
(dos olhos alvissareiros das estrelas)
digital e airosa do rosto de Vertentes
terra da palavra do coração
ágil seiva e lume vital
corça e berço
sonho de nume, garça sem sombra
silêncio que fulge
aurora cujo aroma brota
do ar montanhoso, cuja cor
é a mesma da respiração dos pássaros.
Vertentes, sítio onde a lua vem dormir
terra que contenha o último átimo do tempo.
Herdei do meu avô sonhos de cetim em maio
palavras de amor, o suor da dor
e vândalos papeis da alma espalhados
além de potes de tristezas coaguladas
e sonetos em que ele assinalava
cada 20 de maio, data da morte de minha vó
aos 15 anos, exatamente o dia do nascimento
de meu pai Cláudio Corrêa de Araújo.