Inventarei rumor rosa do lábio
a capinar alma sôfrego urro
minando rosto esgar de gozo
tempo abrindo pássaros no corpo.
Inventarei rumor rosa do lábio
a capinar alma sôfrego urro
minando rosto esgar de gozo
tempo abrindo pássaros no corpo.
(CARNAVAL 2016)
Insônias naufragaram e se redimiram
vígil pálpebra abandonou sono
a si mesmo insano
Um dos poetas que mais li, o faço desde 1985, foi Jorge Guillén, espanhol. Reuni a obra dele, toda no original, porque não há tradução em português. Estive em Madrid e o objeto maior foi comprar Guillén.
a Alejandra Arce
À medida que sol adense, verticaliza sombras.
À medida que o sal avance, a veia cresce, mesmo intumesce
Pátios inclinados como o céu
a Borges
Árduos textos saltam da noite fria garoa erma.
Nem lote de compaixão resta do coração.
Não é mais verão no corpo, só outono e dor.
A imaginação literária em ato
o imaginário potencial do homem
atualizado em poema, realizando
assim a poesia, são partes íntimas
Asseverar à veia, abrí-la
à passagem dos inocentes ateromas.
Seu comboio desastroso e entupidor.
Declarar a inabilidade do escuro proibida.
I
Homens fabricam lento crepúsculo
com utensílios de dias turvos.
Sombras vicejam nutridas de treva
No poema é possível erguer sólido e lento
edifício de nuvens (nuvens de lírios)
e empórios de ar, além de oceanos lascivos.
Poeta absoluto vive à sombra do id da palavra.
Inflamado de abandono (de feérica podridão assolado)
cadáver da palavra se estiola na campa dicionária
(velório de sílabas, urros lassos, à vela da sintaxe iluminados).
Assim é o poema velho granito de escatologia prática.