Desde daquela hora Pirata de 1982, dúbios passos trocando pés e pernas pelo meio fio, calçadas, asfaltos entre o Capibaribe e o Beberibe até a Livro 7 – tudo acontecia ali, asas livres na rua - para voar o céu do Recife além do Brasil e planeta.
POEMA À LEITORA
Iludida irás à sombra
Leito áspero onde
Rosas te esporam
E crucificas espinhos.
O QUE É O CORAÇÃO
O que é o coração
Além de ser um órgão oco e muscular
Habitante da cave do tórax
E bebedor de sangue – esse vinho
INPS DO POETA
Assino o ponto da poesia,
Dou o exato expediente do verso,
Faço petições rimadas,
Memorandos metrificados,
IRRESSURREIÇÃO
Há uma insurreição em mim
De antigos e devolutos textos
Não das terze rime, mas versos libres.
É uma irrupção verbal amorfa e plena.
DEO GRATIA
Pastoreias meu coração, rumas-me ao sono entre estrelas
Em teu rosto bebo a redenção, teu nome redime meu destino
De sete cintilações é fecundo o rumor materno
O brilho da tua face iluminou-me o berço
A PALAVRA QUE QUER(EM) CALAR
Que é isso, Vital (me indago, de chofre) de indecifrabilidade da poesia como amuleto da página, como espírito ou demônio do texto, como condição da náusea que o inexplícito
ENTERREM MEU OLHOS
Enterrem meus olhos longe das ciladas do tempo
Perto das estrelas, entre esferas e mosaicos do céu
Ou na cerâmica do horizonte, além das gaivotas.
Que eles não ouçam rumor a vermes
CANÇÃO DO SI
Jorro de água abata-me sede árida de ser
Irredento até a saciedade do sublevado espírito
Auge liquido de sombras de pedra, igreja de anjos
Esdrúxulos recalcitrantes presa de osteoporose do espírito