Aos 600 mil irmãos matados.
Labaredas de candura
acantonadas na feiura pátria
êmbolos grangrenados
cães rodopiando e nus
rosas de pus
minha sinceridade não é de safira
mas meus olhos são acesos e puros
de vergonha (latino-americana é cada língua
que despejo e choco o útero aborto da pátria).
Lágrima não é de vime
é de ferro e ácido solene
é de tório minha lágrima
de aço feroce o pranto.
Toda a sinceridade brasileira embalada
em pacotes sem destino
enlatada para desaparecer
a fardos asfixiados (espúrios)
a sinceridade condenada
lotes de carência afogados
a estéril eficácia (sono violento)
dos arcabuzes da dor despertada
já fumegam dadivosas ondas
dos incêndios dos oceanos cívicos
e árvores são abatidas (toras de loucura)
coivaras premiadas
viris chamas do criminoso fogo
à incontinente bandeira
prestam ardentes louvores
felicidades aos hiperbóreos de sempre
tísicos lírios te aguardam
te esperam frêmitos de círios
cruas razões ainda sangram
arrancadas da carne
como se arranca a um coração do peito.
feridas abertas do peito pátrio
como enlouquecidos manicômios municipais.
chocalha das lágrimas
dos que foram ao exilio da morte
conduzidos como carneiros ou touros ao atencioso abate.
mortos ao léu tornaram-se
apátridas almas, virótico espírito
portadores do mal tenebroso.
a eles negaram pio enterro
cemitérios foram proibidos, vida negada.
Sopro suprimido, respiração suspensa:
oxigênio passou a ser luxo
só a pulmão ricaço permitido
acesso da multidão à morte não vedado.