Em algum amanhecer vi a rosa e o pássaro
sobre o asfalto da alma enrodilhados
caracol a olhar a alvorada do mar
vi numa manhã qualquer
pássaro e rosa uma só forma do ar
encarnados como coito humano
imersos um no outro como lábios volúveis
e a rosa da manhã aberta a pássaro
é a forma do futuro
o tempo se fazendo humano
o futuro da forma vi
a rosa e o pássaro por vir
porvir encarnado, vital, alado.
Ao encontro e desencontro
dos corpos com as almas e eles mesmos
à loucura fervorosa do poeta
à rima atenta do futuro na palavra
à rosa do alvorecer
(àquela com que se deleita o pássaro
ao amanhecer do néctar)
à contemplação nostálgica de mim
numa foto perdida num jornal e renhida.
À verdade enrodilhada
em sua vasta perversidade
envolta numa matilha de rosa
na manhã semeada de urânio carmim.