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Tigre de nácar e acanto espeta

garra de azeite e zelo

na face do silêncio a despertar

urros reluzentes e amaros.

 

Tigre de ágape e loucura rasga

bíblias de alumínio e devora

úmidos compêndios bastardos

do banquete de gnomos e abetos.

 

Coloquiais tigres povoam ávida

geometria de labirintos e desvelos

e carregam em suas raias e dédalos

eloquentes mistérios indolentes.

 

Tigre assimétrico espreita

silêncio em decúbito

estrangula lápide

ataúde mastiga.

 

Durante digestão tetraédrica

perambula pelas esferas

de outras dissimétricas feras

e do silêncio das enzimas ouve-se

átono cântico dos ácidos

e do grito das ágatas o eco

além do lento rumor das geometrias arrastando-se

à luz de pasmos prismas e pêndulos oblongos.

 

Tigre de acrílico e fibra de vidro

tigre de ótico e cônico manicômio

tigre de placenta de lua ou testículo de aleluia

tigre de túnica de urro e fogo votivo

tigre de ávida geometria noturna

tigre de orgasmo e sândalo iluminado

tigre de agapanto e relâmpago

tigre de nuance e sêmen ferido

tigre de angústia e abismo

tigre de trapo e dente farpado

tigre de olvido e solavanco.

Tigre indistinto, dialógico ou dicotômico.

 

Tigre de penumbra e amianto arma

escuro salto sobre

ombro dos pomares.

 

Do golpe felino brilha

cristalina álgebra

trama de estrelas

épura de galáxias.

 

Tigre de glada e láudano prepara

contra o tempo lento salto

de cimento e náilon.

 

Gritam ágatas do jardim selvagem

nenúfares crisálidas de Cristo pairam

com ubíquos duendes bailam.

Cintilam amapolas no regaço da madrugada.

 

Tigre de basalto e sombra lança

suas raias rojas de rápida náusea

sobre cútis das avenidas náufragas.

Manhã arroja-se do útero noturno

irrompe jorro de claridade ágil

sobre campinas e rostos.

 

Espetada do dorso do páramo

palavra matinal grita sílaba ferida

bandeira de treva finca-se

no ventre de uivo das ladainhas.

 

Andorinhas violam armistícios

néctares furtam do cotonifício lãs

e alimentos brancos

incêndios de algodão e lâmina.

 

Lance cúbico e súbito

de discóbulo no silêncio

de um relâmpago

paira pelo ar redondo

e atravessa o grito

cívico (ou côncavo) que morde a plateia.

 

As nádegas dos cônegos parecem

cubos rezando

dos seus lábios descem

salivas de fideicomisso

suas vísceras aparentam

doces sacrifícios

e seus êxtases lilases

avançam pelos pilares

e se amasiam no púlpito

com os pecados.

 

Palha espalha e agulhas

o eito cresce como um defeito

a lua rasteja no céu baldio

cães se debruçam sobre compêndios

dos autos as sumas são úmidas folhas

relva que o orvalho corteja

haste da chuva que goteja.

 

Geômetras de granito brandem

épuras cartaginesas

garras de basalto dilaceram

núpcias ásperas, conúbios brancos

e sábados que brâmanes abandonaram

ao espalharem pólvoras ao redor de Tiro.

 

Grito branco o súbito rompe

e avassala o silêncio escuro

o ócio íntimo que move o rosário

não dobra a boca automática do crente

a mastigar sílabas de ladainhas.

(Ou provérbios condicionados).

 

Com minha aldeia fiz fezes

comi a fartura inteira.

 

Do regaço do deserto

do nômade dulçor aberto

das enervações rurais

e narrações ruidosas

e ocorrências tardas

dos amanhãs de cinzas

e rodeios de vento

e sempre cremados fogões

dos incêndios de agoras sempre

vem o poema.

 

Da luminosa aleia do alumínio

de rosas pétreas e profundas

de urzes de plástico sarraceno

da palavras never

que parecia um remorso

ou um verme rançoso veio

o poema.

 

Um grito ambulando perambula

no meu coração descompassado

e inútil

do adro pálido de suas câmaras brota

algum lampejo de anjo

debruçado no umbral

 

sílabas rurais alegres componho

para lustro do meu subnome

pratico o lenocínio branco

sou pueril e maculada

como uma escória ou nada.

 

quantos durantes

tantos quantos

e atraveses sempre

interrogando

 

relance ou laço braçal

quarentena ou branca carta

morta cama patente assombra?

 

escapada música ouço durante

a cada dia em osso

vou ao âmago da noite

onde vige silêncio morto

onde mercadejo sílabas de baunilha

e sombra (redonda)

amotino febres e tomates

e enfrento muralhas de seda chinesa

afronto teias de aranhas civis

teares e hecatombes

luto por uma lápide alada

(porque sempre me julguei sujeito lasso)

recolho do pó dos séculos rostos

taciturnos preços congrego a morrer

às margens de um arroio ameno me dispo

dos mantos da vaidade das máscaras

dos símbolos e insígnias amarelas

do poder frívolo e dos jorros

das glórias ruidosas

me desperto do escuro amor

me aparto da claridade de ser

me condeno a mim mesmo assim.

 

Grinaldas de víboras astutas

e compêndios de iras resolutas

óvulos de abelhas, gargantas de rosas

lírios cruéis, colmeia de alumínio azul

escuro eterno, luz efêmera

certezas inúteis

algemas ébrias, sina lenta

torpe destino (o do poeta)

ontens de greda, amanhãs ósseos

e óvulos cegos, eis

o que tenho a legar

além da palavra miséria humana.

 

(Sifilítico dia de cotovelos crédulos

e cemitérios azuis

e hospitais-jardim

para rosas fanadas

e magnólias deliquescendo).

 

Morada do eterno vão.

O eterno é vão.

O infinito vazio.

Nada apazigua

o coração da água.

Naus estertoram

com os mares.

Campanário não de som

de osso de sino.

Eis a hora de fazer

fezes não pazes.

E ao largo da água

morrer.

Na capela defunta

um lírio casual.

Sopro de rancor

cobre o coração.

 

Cortejo horizontes (ásperos).

E lobos (parietais) além de nucas

e exílios.

Sofro da solidão do dinheiro.

E vivo de dilúvios do sol.

A roer corações

encharcados de ira urbana.

Murilo Gun

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