Quando o mundo era um todo dado pela natureza, estava o homem cercado por uma diversidade de vidas desconhecidas. Estava ele diante da terra, do céu, do sol, dos rios e mares, das flores, dos animais, das montanhas, das cavernas, das rochas, desertos, oásis,ilhas, regatos, árvores, vulcões, tremores de terra, etc.
D'ÁGUA DIGO
“O cervo é um vento escuro”
Água estagnada
goteja para o nada
assola o céu coalhado
nuvens grávidas
TERCETO E SEDE
Em meio a jardim púbico enlouqueço
falo em riste róseo
sêmica flor da palavra arde soa.
ERÓTICA VITAL (SUMA SHELLA)
Ébria espiral da concha rosa de carne úmida beber todo
delírio tomar a boca (assalto de êxtase dos dentes luzindo)
pele da saliva morder
até mamilo do céu mugir. (SEIOS)
PIEDADE BOVINA
a Gerardo de Mello Mourão
Do acre umbral do matadouro (de olores escuros, pútridos)
ossos condecoram visitantes
(sedentos dos lumes curvos das estagnadas jugulares
TEMA AZUL
Jazidas de súbito azul
às vésperas da rosa incerta
do amor escavei de teus olhos
amêndoas pardas
botim de abelhas
TODO SEDE
Todo fervoroso inverno
ronda corpo tua concha (rósea)
mutilarei com o alfanje macio do lábio
porque morro de tua sede
CONFISSÃO IMEDIDA
À hora que incinera cinzas
(e devora o pó)
Atravessa-me o nu
de que é feito meu espírito parco
INCLINO-ME
Inclino-me
ao príncipe e à náusea
à saudade árida inclino-me
e ao mar sem comoção da vida
VERÃO CORPO DA MULHER, ALMA DE ABIMOS E VÓRTICES DE ROSAS
Verões furiosos demônios invernos
súcubos incunábulos lascivos habitam
sexo da mulher percorrendo
como correntes de elétrons loucos