Sonhei ontem a mulher nua coberta de
verduras, entre os seios maçãs e na grande
cona tâmaras eretas e querubins. O corpo da mulher
uma mesa, altar de devotas frutas.
Mênstruo representa aurora e pomares seus primeiros encarnados passos
pássaros duplos os seios... e minha fome o êxtase.
O corpo escritura ou canção.
Partitura fêmea, a poesia, que é mulher, torso
demônio urdiu de um só osso de Adão.
Corpo macho (idoso, obeso, rachado de feiura)
é obra de Deus! (Certamente)
II
Cada osso ou minúcia do crepúsculo utiliza
o amanhecer, com intensidade de relâmpago.
E que o sentido do corpo? Nenhuma só a alma
sente. Corpo se entrega, se doa à unção
do prazer. Fonte de volúpia. Assim, é insensato o ser.
Tudo é poente. Quando? O corpo foi só alma.
Sobre o esqueleto do século ergo meu cajado
intemporal e a foice que cerce o resto da carne.
III
Do jogo de sedução e repulsão ou desprezo
gera-se o desânimo e a revolta.
Tudo o que seja pudibundo sempre me será
estranho. Tudo o que oficie ao sexo (seguro ou
não, pois não se trata de seguridade, social ou não),
me é natural, agrada sobremaneira.